Um dos maiores nomes da arte do país, Tunga morre aos 64, no Rio
Morreu nesta segunda-feira (6), aos 64 anos, o artista plástico Tunga. Nascido Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, desde o dia 12 de maio. Ele lutava contra um câncer.
Nascido em Pernambuco, Tunga escolheu viver no Rio de Janeiro, onde se formou em arquitetura e urbanismo e começou a desenvolver sua carreira artística. Ele era filho do jornalista e poeta Gerardo de Mello Mourão e de Léa de Barros, que foi uma das mulheres que posou para o célebre quadro “As gêmeas” de Guignard.
Ele começou a carreira nas artes plásticas ainda na década de 70, com desenhos e esculturas. Tunga traçava imagens figurativas com temas ousados, como na série de imagens do “Museu da Masturbação Infantil”, de 1974. Ainda na mesma década, ele começou a fazer instalações de diferentes materiais.
(Foto: Divulgação/ tungaoficial.com.br)
Na década de 80, ele montou a instalação “Ao”, em que mostra um filme feito no túnel Dois Irmãos. O trecho se repete, como se a câmera andasse em círculos pelo caminho, não encontrando saída e nem entrada dentro daquela estrutura sem comunicação com o ambiente exterior.
Neste período, o artista plástico também abordou as ciências naturais em seu trabalho, mas também representava a fuga da normalidade. A obra “Les bijoux de Mme. Sade”, de 1983, é um exemplo disso, onde ele construiu um círculo com a forma de um osso.
Foi observando serpentes enroladas que surgiram suas “tranças” de chumbo, que inspiraram performances como as das “Xifópagas Capilares” (1984), duas garotas unidas pelos cabelos. Não foi a mais exótica de suas criações. Em “Lézart”, não há solda entre as chapas de ferro e o arame. Esses materiais são ligados por força dos ímãs que os atraem. Ao longo da década de 90, Tunga explorou as relações entre diferentes metais e figuras que fizeram história em sua obra. É o caso de “Lúcido Nigredo”, de 1999.
Considerado um dos maiores nomes da arte contemporânea nacional, ele foi o primeiro a ter uma obra exposta no museu do Louvre em Paris. Tunga também expôs na Bienal de Veneza. Sua obra era carregada de simbolismo, com uso de ossos, crânios, dedais e agulhas.
O Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, abriga duas galerias dedicadas ao artista plástico – “True Rouge” e “Psicoativa Tunga”. Cerca de 30 obras do artista fazem parte do acervo do museu e estão expostas nas galerias e jardins do Instituto. Os trabalhos foram feitos ao longo de 30 anos da carreira do artista. Em 2012, ele exaltou a liberdade que o local oferece.
“Eu sei que aqui tem gente pensando em física, em matemática, em tecnologia, em arte. Ou seja, esse conjunto de pessoas pensando coisas contemporaneamente abre possibilidades”, exaltou Tunga, em entrevista ao Jornal da Globo. A galeria “Psicoativa Tunga” é a maior do Instituto e conta com 2.200 m², ela foi inaugurada em 2012; “True Rouge” está no museu desde 2002, época da inauguração.
A morte de Tunga foi lamentada no meio artístico brasileiro e internacional. A curadora britânica Victoria Siddal, diretora da Frieze Fair, escreveu no Twitter: “Estou triste em saber da morte de Tunga, artista brasileiro que tinha apenas 64 anos e ainda realizava grandes trabalhos”.
A cantora Paula Toller escreveu no Facebook: “Em homenagem ao Tunga, grande artista que faleceu hoje, o vídeo-performance de ‘Derretendo Satélites’, colaboração entre mim, Lui Farias e ele, em 1998. Adeus, Tunga!“. “Viva Tunga”, homenageou o ator, escritor e apresentador brasileiro Michel Melamed.
Fonte G1, por Alessandro Iglesias