Vendas fracas ameaçam shows internacionais no Rio de Janeiro

Sob intervenção federal após o desarranjo político-econômico que atingiu o Estado e a falta de controle sobre a criminalidade, agora o Rio de Janeiro vê também a parte cultural ser afetada pela crise. Os shows internacionais, antes lotados e com grandes nomes da música, atualmente estão sendo afetados pela baixa procura popular e remanejamentos forçados. Só nesta semana, os shows de Wiz Khalifa, Mac Miller e Jason Derulo na cidade foram cancelados.

Desde o fim das Olimpíadas, o Rio se tornou um dos destinos mais procurados pelos artistas de fora do país. Além da visibilidade, novos espaços, como o Parque Olímpico e o Maracanã, viraram importantes locais para receber os grandiosos shows. Porém a crise que abateu o Estado chegou aos eventos culturais e afetou diretamente as vendas ou procuras nos ingressos.

Na última semana, os show da cantora Katy Perry e do astro Ozzy Osbourne foram remanejados. Oficialmente não houve uma declaração sobre a baixa procura para as mudanças, porém ambas apresentações foram para locais com menos espaço público. O da Katy saiu do Parque Olímpico, que pode comportar até 100 mil pessoas, e foi para a Praça da Apoteose, com capacidade para 30 mil. Já Ozzy precisou mudar da Apoteose para Jeunesse Arena, que comporta 15 mil. 

O fenômeno passou a despertar atenção com ares de preocupação quando dois shows considerados de grande procura, como Phil Collins e Foo Fighters + Queen Of Stone Age, receberam públicos considerados abaixo da expectativa. Phil se apresentou no Maracanã para 42 mil pessoas e as duas outras bandas, no mesmo local, para 30 mil, menos da metade da capacidade total que é de 66 mil pagantes. O estádio, que já foi o maior do mundo, chegou a receber mais de 100 mil em grandes eventos nos anos 80 e 90.

E tal problema refletiu diretamente nos preços dos ingressos. Após os canadenses do Arcade Fire serem obrigados a trocar a Jeunesse Arena, na Barra, pela Fundição Progresso, com um terço da capacidade de público, os produtores dos shows passaram a trabalhar com promoções ou uma redução nos valores das entradas. Atualmente a T4F, uma das mais importantes produtoras do Brasil, está dando descontos de até 60% nos tickets para a apresentação do Osbourne, no Rio. Chamada de Semana do Consumidor, a campanha também contempla diversos outros artistas.

Segundo produtores, outro motivo que está afetando diretamente os grandes shows, além da crise, é a nova onda de Festivais. De acordo com pessoas que trabalham na produção desses eventos, com renda menor e muitas apresentações simultaneamente, o público prefere poupar dinheiro para ocasiões especiais, como o Rock in Rio e Lollapalooza.

Antônio Leal, que trabalha com produção de shows independentes na cidade, comenta que o problema já chegou até mesmo nos artistas que buscam espaço. Ele diz que o cenário pode até mesmo piorar:

– Não é um caso apenas das grandes produções, hoje você não consegue encadear eventos, público e vendas como antigamente. Além da insegurança e muitos artistas vindo para o Rio de Janeiro, há a questão da vivência cultural carioca que está sendo prejudicada. Cada vez menos pessoas consomem cultura. E vai virando uma bola de neve. Soma-se a isso o fato de os ingressos serem caros e menos acesso a quem realmente deseja participar – disse Leal, que já organizou eventos no Parque de Madureira e Lonas Culturais da cidade.

A temporada de apresentações ainda está a pleno vapor. Entre entre fevereiro e maio já estiveram ou virão para o Rio shows como Phil Collins, Pretenders, Foo Fighters, Queens of the Stone Age, Katy Perry, Pearl Jam, Royal Blood, Imagine Dragons, David Byrne, Radiohead, Demi Lovato, Harry Styles e Ozzy Osbourne. Com preços médios de R$ 270, nenhum ainda teve os ingressos esgotados.

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