CD das Escolas de Samba para 2014 quase tira nota 10, mas esbarra em narrações desnecessárias

Adotando fórmula que vem dando certo há quatro anos, a Gravasamba, produtora do CD de Sambas de Enredo 2014, novamente apostou nas gravações ao vivo. Com captações feitas no final de outubro e começo de novembro na Cidade do Samba, o álbum traz boas obras mas peca como nunca antes durante a introdução das faixas. Em cada samba há cerca de trinta segundos de explanação do enredo da respectiva escola feita pelo carnavalesco. Um pecado para um trabalho tão bem produzido.

As gravações ao vivo se tornaram marca dessa nova era dos sambas, que começou em 2010 e a cada ano ganha melhor produção e qualidade de seus músicos. Conduzidos por Laíla e com regência dos maestros Alceu maia e Jorge Cardoso, as faixas apresentam voz limpa dos intérpretes, baterias com peso nos instrumentos como uma Avenida e um coral de moderado volume. O conjunto formado dá impressão de um álbum realmente simulando uma Marquês de Sapucaí e um trabalho quase impecável. Mas é quase…

Destoando consideravelmente do que busca um ouvinte que compra o CD, as vozes e as explicações dos artistas sobre seus enredos é pra lá de excêntrico e desagradável. E se for olhar com mais crítica, até certo ponto desnecessário. Isso porque nos anos 90, ainda nos antigos LP’s, um encarte acompanhava o disco e detalhava de forma mais precisa e completa o tema de cada agremiação para aquele ano e tinha solução mais viável. Com falta de atrativos para um produto sazonal e que tem data de validade para vender, essas introduções fez com que o álbum em si atravessasse o samba.

Sobre as obras em si, uma boa safra suplantou alguns enredos de difícil assimilação artística em termo de carnaval. Destacam-se no CD os sambas da Vila Isabel, Salgueiro, Portela, Mangueira, União da Ilha, Mocidade e Império da Tijuca. Se levarmos em conta que são 12 agremiações, o disco se torna bastante atraente do ponto de vista musical. Novamente as agremiações são posicionadas no álbum conforme a colocação no carnaval anterior.

A primeira faixa é da campeã Vila, que depois de dois sambas que entraram para a galeria dos grandes clássicos da festa apresenta um samba de qualidade, mas que ainda não caiu no gosto dos sambistas devido ao citado anteriormente. E isso não o faz pior, pelo contrário, traz uma letra perfeita e melodia que tem tudo para crescer até março. Em seguida vem a Beija-Flor de Nilópolis, que apresenta uma obra que é de agrado da comunidade, mas longe dos grandes trabalhos da tradicional agremiação da Baixada Fluminense do Rio.

As terceiras e quartas faixas são da Unidos da Tijuca e Imperatriz, respectivamente, que apresentam sambas chamados “funcionais”, onde refrões fortes e letras casadas com o enredo fazem da obra uma garantia de sucesso para o desfile. O destaque fica por conta da participação do cantor Elymar Santos na escola Leolpoldinense, haja vista que é um dos autores do samba enredo de 2014.

Sempre popular, o Salgueiro traz um enredo quase todo em tom menor e muito forte, principalmente nos refrões. O vocalista do grupo Revelação, Xande de Pilares, faz participação especial na faixa e é um dos compositores. A Grande Rio vem em seguida com uma obra que apresenta o enredo sobre Maricá. Assim como nos últimos anos, a escola tem um samba que serve à escola e ao tema de forma adequada.

Sensação dos dois últimos carnavais e álbuns graças aos sambas de altíssimo nível, a Portela repete a fórmula e com um grupo de compositores quase igual. O sucesso é garantido e a obra uma das melhores do carnaval do ano que vem, fugindo dos pasteurizados estilos de composição. A seguinte é a Mangueira com um samba ao seu estilo: arrasta-quarteirão, refrões fortes e melodias envolventes. A verde e rosa apresenta uma das grandes faixas e interpretação irretocável do excelente cantor Luizito.

União da Ilha traz o tema infantil para o disco e com a característica voz do seu puxador Ito Melodia, também garante a continuidade das boas obras. A faixa, inclusive, é uma das mais bem produzidas. A São Clemente aparece logo após, com Favela como enredo e um samba que cresce a cada audição. O bom cantor Igor Sorriso dá força e muita qualidade ao momento da agremiação no disco.

Tradicional escola, a Mocidade revive seus grandes momentos no carnaval com uma obra que tem entre os compositores Dudu Nobre. Valente e com estilo que lembra os sambas de sucesso da agremiação, Pernambuco é muito bem representado na faixa e com a estreia do cantor Bruno Ribas. Voltado ao Grupo Especial, o Império da Tijuca traz um samba muito forte nos refrões e uma das interpretações mais fantásticas do disco, com Pixulé sendo perfeito no que se espera de um cantor de sambas de enredo.

O álbum é de grande agrado e uma boa pedida para as sempre festivas datas de finais de ano, mas não garante o 10 por causa das introduções. Ainda assim, a produção e a boa safra garante a volta do CD ao Desfile das Campeãs.

Classificação: Bom

Por Bruno Guedes

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *