Em noite de nostalgias, Tears for Fears e Bon Jovi distribuem hits no Rock in Rio
A quinta noite de Rock in Rio teve como principal marca os hits que atravessaram gerações. Tears For Fears e Bon Jovi fizeram a festa de jovens e outros nem tanto assim, desfilando uma bateria de sucessos no Palco Mundo. Mesmo com seus agudos longe do que um dia foram no auge da juventude, Jon Bon Jovi comandou a massa em corais gigantescos.
E até mesmo os brasileiros entraram na distribuição coletiva de hinos que embalaram memórias afetivas. Com uma Ode ao Nordeste, O Grande Encontro, com Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, lotou o Palco Sunset como ainda não tinha ocorrido nesta edição. Ney Matogrosso e Nação Zumbi, um dos shows mais aguardados, acabaram decepcionando. Mas o Baiana System surpreendeu e fez o Rio virar Bahia.
COMO FORAM OS SHOWS, UM A UM (Veja após a matéria, a resenha sobre cada dia do Rock in Rio):
PALCO SUNSET
Abrindo o palco, Sinara, grupo que mistura reggae e MPB, convidou o veterano Mateus Aleluia. Com muito swing e balanço, os jovens, com muitos integrantes da Família Gil, conseguiram empolgar o público que chegava à Cidade do Rock.
Aleluia, com “Cordeiro de Nanã”, proporcionou um dos grandes momentos deste festival. Agradaram e acertaram em cheio os que ousaram em mesclar a juventude e o talento do passado.
Em seguida vieram os os soteropolitanos da Baiana System com a angolana Titica. E um show que transformou o Rock in Rio num Carnaval da Bahia. Misturando batidas eletrônicas com sonoridades nordestinas, o Baiana trouxe para o festival um dos sons mais originais desta edição. A representante de Angola não fez por menos e, com muito carisma, incendiou os presentes com o famoso Kuduro, dança típica do seu país.
Quase no fim, a tradicional roda no meio do público, marca das apresentações do grupo baiano, aconteceu. Numa mistura de carnaval, reggae, rave e rock, o show finalizou com uma enorme apoteose.
Alguns artistas dispensam apresentações e, só pelo nome, carregam consigo história, tradição, talento e músicas que atravessam gerações. Foi assim com Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo. Com eles, a Banda de Pífanos Zé do Estado e o Grupo Grial de Dança. Sob fãs absolutamente enlouquecidos, os monstros sagrados da MPB enfileiraram seus grandes sucessos um atrás do outro, acompanhado por um coral de milhares. Foi um dos shows mais cheios do Palco Sunset.
Abriram com “Anunciação”, clássico nacional, para em seguida emplacarem “Caranava” e “Sabiá”. Todas cantadas a plenos pulmões pela plateia. Após mais algumas canções, Elba então pegou o violão e começou o momento de transe completo no Rock in Rio. A paraibana lembrou que Zé Ramalho, que fazia parte do quarteto, não os acompanha mais porém ainda está presente na música. E cantou “Chão de Giz”. Eram gerações inteiras cantando junto.
Alceu Valença retornou e, com o mesmo ímpeto dos fãs, continuou com o coral cantando “Belle de Jour”, para depois o grande êxtase: “Morena Tropicana”. Ainda sob aplausos, todos reapareceram no palco. Num clima de São João, “Banho de Cheiro” e “Frevo Mulher” encerraram um dos melhores momentos da edição 2017. O público sabe reverenciar seus ídolos e o fez na forma magnífica que merecem.
Um dos encontros mais aguardados do Rock in Rio, Nação Zumbi e Ney Matogrosso acabaram deixando a desejar. Os tons das vozes de ambos os cantores pareciam não casar e, por vezes, os intérpretes tentavam alcançar as notas. Mas todos os grandes sucessos do Secos e Molhados estavam lá. Assim como os da turma do eterno Chico Science, falecido em 1996.
Ney saiu da banda em 1974 e desde então não cantava – ou pelo menos tentava – o repertório que o lançou. Matogrosso iniciou o show cantando “Mulher Barriguda” e “Assim Assado”. Sempre performático, o ícone de gerações inteiras não deixou de lado seu rebolado consagrador. Mesclando canções do Nação, Jorge Du Peixe então atacou com “Um Sonho” e “Tem gente com fome”. E neste momento a diferença desconfortável de tonalidades foi gritante. Pareciam dois palcos diferentes.
O ápice da apresentação aconteceu em seguida, com “Sangue Latino”, um hino do Ney, e “Maracatu Atômico”, mais famosa do Nação. O público reagiu cantando e aplaudindo com entusiasmo. Em “Rosa de Hiroshima”, novamente Matogrosso botou pra fora o seu talento e, com muita emoção, interpretou uma das mais lindas e dolorosas músicas da MPB, feita em cima de uma poesia do Vinícius de Moraes.
Fechando a apresentação veio “Quando a maré encher”, outra referência da Nação Zumbi. Apesar da ótima recepção popular, os problemas nos tons acabaram prejudicando. Mas quando falamos de duas fortes influências da música nacional, a decepção é só momentânea. Há créditos. E muitos.
PALCO MUNDO
Começando os trabalhos da noite no palco principal, os mineiros do Jota Quest. Abriram com o seu grande hit “Na Moral”. Seguiram com “Tempos Modernos”, cover do Lulu Santos. Animando os fãs que já lotavam o local, “Blecaute” e “O Sol” vieram na sequência. Carregado de protesto com a política do Brasil, Rogério Flausino, o vocalista da banda, pediu mudança no país e cantou “Dias Melhores”.
“Além do Horizonte” e “Dentro de um abraço” vieram depois, já anunciando o novo trabalho do grupo, o Jota Quest Acústico, lançado exatamente nesta sexta-feira, 22. Com imagens de políticos corruptos, o jogo Brasil vs Alemanha na Copa de 2014 e diversos protestos, “De Volta ao Planeta” com “Sociedade Alternativa”, do Raúl Seixas, sacudiram as quase 100 mil pessoas.
“Só Hoje”, “Fácil” e “Do Seu Lado”, outros sucessos dos artistas, fecharam a apresentação que teve pouco mais de uma hora.
Formada por ex-integrantes do Creed e Myles Kennedy, que durante anos cantou com o guitarrista Slash, o Alter Bridge foi a segunda atração da noite. Com um som bem mais pesado que os demais do palco, flertaram com o hard rock, heavy metal e grunge. Mas nem por isso fizeram feio ou desagradaram. Pelo contrário, agitou muito os fãs do Bon Jovi.
Carismástico, Myles conversou bastante com a plateia e abriu com “Come to life”, mostrando o estilo dos músicos. Seguindo com “Addicted” e “Ghosts”, sempre com uma calorosa recepção. Apesar do show curto, o Alter tocou 10 canções, não decepciou quem esperava uma pega mais pop ou melódica. Ainda mais quando Kennedy desceu e foi para o meio do povo. Finalizaram com cada um pegando seu instrumento e, individualmente, fechando o concerto.
Quem viveu os anos 80 certamente teve como referência do pop muita coisa do Tears for Fears. A abertura aconteceu com a voz da cantora neozelandesa Lorde. E foi logo com “Everybody Wants to Rule the World”, uma canção que se tornou hino da cultura pop. Com imediata ótima recepção, foram soltando canções menos populares, mas nem por isso menos famosas. Foram os casos de “Sowing The Seeds Of Love” e “Advice For The Young At Heart”.
Usando bastante o sintetizador, marca registrada do pop feito no seu tempo, o Tears embalava corações de gerações inteiras que cresceram com seus pais ouvindo as muitas das músicas apresentadas. Num dos melhores momentos, fizeram um arranjo próprio para “Creed”, que foi imortalizada pelo Radiohead.
Seguindo a rotina dos seus shows, repletas de boa execução e muita segurança no palco, o coral em diversas ocasiões mostrava que estavam sendo aprovados por gente de todas as idades. Com “Pale Shelter” e “Break It Down Again”, se despediram para uma pausa de cinco minutos. Mas voltaram para o grande hit “Shout”, que fechou de forma apoteótica uma apresentação que mexeu com muita memória afetiva no Parque Olímpico.
Há bandas que viraram grifes de sucesso. Geração após geração, elas continuam transmitindo a sua fama. Uma delas é Bon Jovi. Agora sem seu lendário guitarrista Richie Sambora, que deixou o grupo em 2014, os americanos entraram no Palco Mundo de forma apoteótica. Os milhares de fãs que esperavam desde cedo gritavam eufóricos aos primeiros acordes de “This House Is Not for Sale”, single do novo disco que leva o mesmo nome. Mesclando novas e antigas canções, “You Give Love A Bad Name” fez novamente explodir a massa.
Variando os hits, colocou “Because We Can” no repertório. Ela fez parte do penúltimo álbum, “What About Now”. E fez a alegria dos milhares com “Bed of Roses”, um dos sucessos mais lembrados. Mesmo sem sua potência vocal de antes, Jon Bon Jovi se esforça para alcançar os agudos mais altos, que outrora, no auge da carreira, conseguia. Hoje, após tantas agressões com a voz, o tempo cobra caro o seu preço.
Vale destacar o novo guitarrista, Phil X. Com muita segurança, atitude e principalmente identidade própria, o músico não fsz os fãs sentirem saudades de uma das maiores referências do instrumento nos anos 80, Sambora. Além dele, outra guitarra participa do concerto e torna o conteúdo sonoro bem mais encorpado, por exemplo, que há 4 anos neste mesmo palco. E isso fica nítido em “It’s My Life”, outra que é marcante para diversas gerações.
Tico Torres, que em 2013 não esteve no festival devido a uma operação, hoje estava lá. Com seus ataques precisos e fortes na bateria, a cada sorriso parecia mostrar que os cinquentões ainda fazem um hard rock melódico de alto nível. A banda, aliás, parece estar muito mais atenta e entrosada que na última vez que vieram ao Rio de Janeiro. Até Jon, com seus problemas no agudo, está mais solto e preocupado apenas em cantar.
Alternando diversas fases da carreira no setlist, Jon Bon Jovi chega aos seus grandes sucessos: “Have a Nice Day”, “Bed Medicine” e finalmente o seu maior sucesso mundial veio no bis, “Livin’ On a Prayer”. Era a chave de ouro que faltava para um desfile de hits. E como toda grife que se porta para manter a fama, os compradores saíram mais que satisfeitos.
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Fotos: Rock in Rio