Entrevista com o poeta cantor ZUZA ZAPATA

1 – O que te fez sair de Macaé para vir ao Rio de Janeiro?
Era uma vontade que eu tinha há bastante tempo. Sempre tive uma relação muito forte com o Rio de Janeiro. Quando criança falava que iria estudar aqui quando crescesse. Mas o impulso veio quando me apaixonei por uma menina que morava aqui e resolvi largar tudo para vir. Uns anos depois a relação acabou mas nos tornamos grandes amigos. Sou super grato a ela, pois estava em um momento meio estagnado na vida e ela foi meu impulso necessário. Aproveitei essa vontade de mudar e comecei a faculdade de Gravação e Produção Fonográfica, o que foi ótimo também. Conheci muita gente bacana. Tive aula com o Mayrton Bahia que foi produtor da Legião Urbana e acabei conhecendo meu primeiro parceiro musical, o Walter Martins, que hoje faz um som incrível de blues autoral. Sair de Macaé foi essencial para meu lado artístico.
2 – O que manifestou primeiro na sua vida, a música ou a poesia?
Tudo aconteceu quase ao mesmo tempo. Até uns 13 anos eu queria ser arquiteto. Com 14 assisti ao filme “Sociedade dos Poetas Mortos”. Aquilo mexeu muito comigo, a possibilidade de me expressar poeticamente, mas sentia falta de algo… No mesmo mês aluguei na locadora perto de casa uma VHS do show “O Tempo Não Para” do Cazuza no Canecão (nem sabia quem era Cazuza até então, na verdade até hoje não sei porque aluguei aquela fita) e lembro que fiquei arrepiado o tempo todo e pensei: é isso que quero fazer da minha vida! E pouquíssimo tempo depois, um amigo me emprestou um CD do The Doors e fiquei maluco com aquela sonoridade. A partir daí Poesia e Música se tornaram uma coisa só para mim. O que me ligava a música era a letra principalmente. E comecei a escrever muito. E me convenci que só seria feliz fazendo aquilo na minha vida.
3 – E nas composições, letra ou melodia, o que surge primeiro?
Sempre a letra. Minha forma de expressão é a poética. Escrevo as letras e procuro os parceiros para musica-las. As coisas mais bacanas que fiz tem melodia do Walter 
Martins ou do Marcio MM Meirelles. São meus gurus musicais. Sei que se sento com eles para fazer algo ou entrego uma letra a eles, vai sair coisa boa.
4 – Você é um artista urbano, vende poesias nas ruas e em estações do metrô. Há um caráter ideológico nesse iniciativa ou é meramente falta de opção pela escassez de espaços e incentivo a cultura de um modo geral?
Há um carater bastante ideológico. Como costumo dizer: a arte humaniza! E se ela humaniza, precisamos mais do que nunca de sua utilização na sociedade. Mas eu nunca havia pensado em levar poesia para rua até conhecer o Lucas Lisboa, um poeta incrível de Belo Horizonte, mas que mora aqui no Rio. Ele faz esse trabalho há bastante tempo. E  me incentivou a fazer meus livretos e a levá-los para as ruas. É uma experiência fenomenal. No metrô as pessoas ficam muito gratas. Geralmente estão ali naqueles vagões frios, entediados e de repente chega a poesia e acalenta um pouco o indivíduo. Uma pena a concessionária do metrô não nos permitir fazer esse trabalho. Acaba sendo algo clandestino. Há uma falta de visão institucional terrível. Nos vagões do mundo todo o artista é bem vindo e logo no Rio de Janeiro isso não ser permitido parece até piada. As vezes desanima bastante…
5 – Trace um parâmetro do seu primeiro álbum com o “Crônicas de Ontem e Outras Saudades”. É um processo de evolução natural, contínua, ou houveram inovações e rupturas com o trabalho anterior?
Acho que houve um pouco de tudo. Evolução natural e também rupturas. O primeiro disco tinha uma brasilidade que não quis no segundo. A base do primeiro disco é o violão,
percussão. Não tinha bateria. Apenas algumas músicas tiveram guitarra. O segundo não, queria uma banda. Queria fazer algo mais rock and roll mesmo. Então é todo baixo,
guitarra, bateria e teclado. Havia uma segurança maior também em termos de gravação nesse trabalho. Gosto mais da minha voz nele. Gosto da coisa da poesia falada. O
primeiro é como se eu apenas me apresentasse: “oi, cheguei, sou o Zuza, prazer”. O segundo é uma busca por uma identidade própria, que já existia no primeiro, mas agora fica mais evidente. Acho que agora eu me assumo, antes de tudo, como um poeta. Nem gosto de falar muito que sou cantor. Cantor é o Tim Maia. Eu sou um poeta que às vezes canta.
6 – Ser artista independente, quais os pontos que vê como positivos e negativos?
O ponto positivo é a total liberdade sobre sua obra. O ponto negativo é a falta de recurso financeiro. Mas não sei se hoje, mesmo numa grande gravadora, a coisa seria muito diferente (em termos de grana mesmo). A divulgação é um dos trabalhos mais caros que um artista tem. E só assim sua arte chega ao público. Precisa investir em divulgação mesmo. Você pode ter a melhor música do mundo, mas tem que ter um investimento em divulgação por trás. Nunca assinei contrato com gravadora, nunca procurei para falar a verdade. Conheço pessoas que estiveram lá e logo depois saíram, pois a gravadora também não divulga se não tiver uma certeza grande de retorno. Então para mim, o único ponto positivo de estar numa grande gravadora seria um plano de divulgação bem estruturado, se elas não puderem oferecer isso, não faz sentido algum. Até porque hoje temos ferramentas incríveis de divulgação que o próprio artista pode utilizar. A tecnologica democratizou muito todo o processo que antes só era possível através de uma grande gravadora.
7 – Você tem uma grife que oferece bolsas e biquínis poéticos. Como surgiu a ideia? E a aceitação das pessoas?
A ideia surgiu de uma brincadeira na verdade. Sempre gostei de presentear com biquíni fio-dental. Aí um belo dia falei para uma amiga: “vou produzir um biquíni poético”! E comecei a correr atrás para ver como tornar a ideia possível. Acabou dando super certo. A estampa do biquíni é baseada em poesias minhas. Produzi duas estampas até o momento, a Dandara Maia que desenhou. E o biquíni acompanha um dos meus livretos de poesia. Acho que fui a primeira pessoa a colocar poesia em um biquini fio-dental no mundo, rs. A grife está bem no começo ainda. Fiz um lançamento de biquíni poético ano passado e foi super bem aceito. Vendi todos bem rapidamente. Esse ano estou programando o lançamento de algumas bolsas. E ainda tenho uma parceria com a grife de camisetas literárias, a Poeme-se. Eles estão vendendo uma camiseta com uma poesia minha. A ideia é colocar arte nos lugares mais inusitados, fazer a poesia circular pela cidade.
8 – Sua sonoridade bebe em uma fonte bem rock’n’roll. Pretende explorar outros horizontes?
Sempre ouvi de tudo. O primeiro disco tinha samba, reggae… Gosto de misturar. Então, tudo pode acontecer. Mas a sonoridade do rock me empolga muito. The Doors é uma
banda que acho incrível, Mutantes, Barão Vermelho. E o rock te da tantas possibilidades. Mas tudo depende das letras também, elas que vão meio que ditando a sonoridade da música. O que não vai mudar nunca são as intenções poéticas.
9 – Como pretende alcançar as pessoas com sua arte?
Quero que faça diferença de alguma forma. Que seja por causa de uma palavra. Um solo que ouviu numa música. Quero emocionar e fazê-las
refletir. Que a arte as toque da mesma forma que me toca.
10 – Aproveite seu espaço para mandar uma mensagem ao público e divulgar espaços de divulgação, futuros shows, o que você quiser!
Primeiramente gostaria de agradecer pela entrevista e falar que adoro o site de vocês. Queria falar também que o “Crônicas de Ontem e Outras Saudades” está a venda para download no site da OneRPM. E pode pagar quanto quiser por ele completo, bastanto clicar em Doar nesse link:www.goo.gl/hI0YQY
É uma forma justa de baixar músicas legalmente remunerando o artista. Além disso ele pode ser ouvido de graça nesse site:www.zuzazapata.com/cronicas
E bom, podem acessem meu site: www.zuzazapata.com.br e minha fanpage: www.facebook.com/zuzazapataoficial
É isso, muito obrigado e até a próxima!
Agora o que importa na vida
É muita sorte
E pouca despedida.
Zuza Zapata
Obrigado pela entrevista!
Por Alessandro Iglesias

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