ROGER HODGSON emociona o VIVO RIO invocando o SUPERTRAMP

Roger H

A banda inglesa SUPERTRAMP teve uma trajetória meteórica nos anos 70! Bebendo na fonte direta do rock progressivo, mas com fortes influências de jazz e blues no seu rico instrumental, tinha como principal marca registrada os vocais alternados dos fundadores e principais compositores do grupo, Rick Davies e Roger Hodgson. Mas a explosão foi ainda maior quando acenaram para o lado mais comercial, com o multiplatinado álbum “Breakfast in América”, de 1979. E o principal, com respeito da mídia e até do conservador público progressivo. Praticamente se instaurou o termo “pop-cabeça” a partir daí, com refrões envolventes e acessíveis, mais nada de melodias fáceis, o rebuscamento musical continuou lá INTACTO! Mas como nem tudo são flores, o relacionamento entre Roger e Rick ia de mal a pior…

E após o álbum “Famous Last Words”, de 1982, Hodgson deu adeus ao grupo e partiu em carreira-solo. O SUPERTRAMP se manteve com músicos de apoio diversos para compensar a perda, tal qual o PINK FLOYD após a saída de Roger Waters. Os dois lados tiveram respostas mornas em seus lançamentos fonográficos e turnês e a copilação “The Autobiograph of Supertramp” de 1985, com os principais sucessos e ironicamente o rosto de Roger na capa, foi o disco mais vendido na história da banda. Sinal de que o grande público queria muito ver a formação clássica junta novamente.  Mais passados 32 anos, isso ainda não ocorreu… Bandas com histórias de barracos mais homéricos, como o PINK FLOYD e o IRA, por exemplo, voltaram às boas. E o SUPERTRAMP que é bom, nada!

Em sua primeira vinda ao Brasil, em 1998 após seu show na casa de shows METROPOLITAN, no Rio de Janeiro, perguntei a Roger em um papo informal se havia alguma chance de retorno e foi o único momento em que sua simpatia esvaiu-se num comentário curto e grosso: “sem chance, não deu certo, havia muita briga”. Fazendo uma analogia entre um caso bem conhecido de nós brasileiros, me lembrou o SEPULTURA, no qual vamos combinar, as duas partes perderam MUITO com a separação: Max Cavalera e seu SOULFLY, e os remanescentes que levaram o nome da banda adiante. Coincidência ainda maior, a mulher de Rick Davies era a empresária da banda, tal qual a dos “thrashers” brasileiros com a de Max. Definitivamente, parentes e negócios podem ser extremamente nocivos para o futuro de um projeto vencedor.

O que restou do SUPERTRAMP, não lança nada e parou com as turnês desde 2011, restando a Roger manter a música do grupo em evidência nos seus shows, já que há bastante tempo o destaque maior são as canções de sua ex-banda em detrimento a sua tímida carreira-solo. Tanto que o nome dessa turnê é “The Breakfast in América Tour”. E os MUITOS fãs da banda agradecem solenemente, vide a lotação esgotada do VIVO RIO nesse sábado (18/10).

A platéia bem heterogênea (muitos jovens!) reverencia com respeito todo o incrível show de Roger. Com o palco já tradicionalmente ornamentado com palmeiras diversas, sua banda de apoio é perfeita, com destaque absoluto para o super versátil saxofonista Aaron Macdonald, que impressiona pela destreza impressionante nos DIVERSOS instrumentos que dominou, em perfeitas vocalizações e no bom português que “arranhou” com o público. Vários “Lado B” do SUPERTRAMP foram colocados em prática, como a envolvente “Lady”, “Sister Moonshine” (no qual ganhou uma camisa de uma fã com um pedido para tocar a canção), a belíssima “If everyone was listening”, e as mais progressivas de “Breakfast in America”“Lord is the Mine” e “Child of Vision”, no qual pode continuar a destilar sua simpatia já característica chamando uma fã para tirar uma “selfie”consigo no palco.

As suas canções solo são muito bem escolhidas para manter o clima “show do SUPERTRAMP”, como as singelas e apuradas tecnicamente “In Jeopardy”, e “Lovers in the Wind”, a estranhíssima “Death in Zoo” (destilando experimentalismo com  batida tribal e seus sons de animais como intervenção incessante) e a bem rock de arena “Had a dream”, onde Roger relembra seus bons momentos empunhando uma guitarra, com belos solos, em única vez no show. Vale frisar que a sua característica voz aguda está lá intacta, como sempre!

Mas não adianta, por mais que o espetáculo agrade por sua beleza sonora e bom gosto como um todo, é nos grandes hits do SUPERTRAMP que a casa vem abaixo! “Take the long away home”, “Dreamer”, “The Logical Song”, “Hide in your Shell”, “School”, “Breakfast in América”, “Give a little bit”, “Fool’s Overture” (destaque para a teatralidade coreografada de toda a banda, nos momentos mais épicos da canção) e a grande encore com “It’s raining again”, fizeram a temperatura do VIVO RIO chegar a alturas incalculáveis. Isso nos deixa claro que por mais que Roger seja aclamado (o grito de guerra “olê, olê, olê, Roger, Roger” o emocionou), e faça um show impecável, é na verdade o SUPERTRAMP que as pessoas querem ouvir. Afinal de contas, tem mais uma “penca” de hits na voz de Davies que fica de fora do show.

Ficamos imaginando como seria se ainda houvesse essa reunião “milagrosa” um dia. Mas enquanto isso, Roger Hodgson fez um dos melhores shows do ano por aqui e com certeza está entre os maiores em nível mundial. EMOCIONANTE é a palavra mais indicada para resumir o que pudemos presenciar…

Por Alessandro Iglesias

Fotos de Daniel Croce

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