Andre Matos confirma seu status de lenda no Teatro Rival

Andre Matos 07129O Rio de Janeiro é uma cidade que infelizmente possui algumas peculiaridades negativas quando se trata de produção cultural… Uma delas é a triste constatação que realizar um evento em plena véspera de um chamado “feriado prolongado”, pode instituir-se em um grande risco. Programações diversas como uma viagem, ir à praia cedo, o churrasco com os amigos, se tornam a prioridade maior.

E não pense vocês que os amantes de Heavy Metal ainda são radicais a ponto de não se inserir nesse contexto. Já foi época… Portanto, só a garantia precisa que MUITA gente sonhava em ouvir o “debut” do ANGRA (“Angels Cry”), lançado há exatos 20 anos e na voz do seu cantor original, para termos um Teatro Rival com ingressos esgotados nessa data.

Andre Matos já tinha percebido o potencial desse tipo de revival, na sua excursão comemorativa com a banda que o lançou profissionalmente (o VIPER), que se consistiu em um absoluto sucesso. Mas longe de oportunismo barato a reedição “alive”, do já clássico “Angels Cry”. Nem na primeira turnê do ANGRA ao lançar o álbum, ele foi tocado na íntegra com sua sequência real.

E era nítido da parte do público qual era a grande expectativa da noite. Por mais que o repertório do último álbum solo “The Turn of the Lights” seja excelente, a contemplação passiva da galera, já conduzia a um “poupar forças” para a grande explosão. Ainda mais que todos foram comunicados que o “Angels Cry” rolaria na segunda metade do show, com previsão de duas horas e meia de duração. O som demorou a se encaixar, talvez pela própria acústica do local, que para quem não sabe, tem uma larga tradição de shows de MPB.

A voz de Andre também não estava demonstrando estar nos seus melhores dias, mas o próprio, exalando muito bom humor, relatou ao público em meio a tosses constantes, que após a chegada de uma viagem a Argentina, pretendia suar toda a forte gripe naquele show. E que estava muito feliz em ver o interesse dos cariocas, ainda mais após uma apresentação recente no Rock in Rio, esgotar rapidamente os ingressos para aquela noite.

Nesta primeira parte do concerto, podemos destacar as emblemáticas e suntuosas “Fairy Tale” (SHAMAN), “Lisbon” (ANGRA) e um dos grandes hinos do Metal Nacional, “Living for the Night”, do VIPER. Vale ressaltar também a performance individual dos músicos de apoio (Hugo Mariutti e André Hernandes, nas guitarras, Bruno Ladislau no baixo e Rodrigo Silveira na bateria), simplesmente soberba! A banda fatalmente esta entre as “tops”, do Metal Mundial em termos de qualidade. E como o prometido, a voz do nosso “frontman” foi evoluindo ao longo do tempo. Mas sabemos que Andre Matos mesmo a “meia boca”, já está entre os maiores vocais que temos notícia. Fora sua postura peculiar no palco, exalando carisma, por mais que muitos o achem exagerado demais.

Intervalo breve e eis que somos anunciados do grande momento da noite com a introdução “clássicosa” (com seu breve arranjo de “Caprice nª 24”, de PAGANINI) de “Unfinished Alegro”, para a casa vir abaixo! E se temos a consciência que um álbum é clássico, histórico ou como mais quisermos adjetivar, é quando vemos que TODAS as canções pertencentes tem o mesmo peso para os fãs, independentemente daquelas que foram lançadas como single e obviamente tiveram mais destaque. Foi uma “cacetada” das boas ouvir o “Angels Cry” de uma tacada só e o principal: com Andre Matos conseguindo TODOS os agudos de 20 anos atrás. Realmente fica muito difícil descrever por aqui o quão mágica foi essa noite para os amantes de boa música.

Não tem como destacar um grande momento, porque toda a execução do disco o foi, mas o coro de “Wuthering Heights” (da KATE BUSH) por parte da audiência, arrepiou, e levou muitos as lágrimas. O “grandfinale” com “Evil Warning” (com inspiração em “Winter” de VIVALDI) e “Lasting Child”, só nos saiu com uma sensação que se consolidou como uma certeza absoluta: Andre Matos é uma das grandes lendas do Metal, é brasileiro, e isso nos causa grande orgulho. Quem não foi, pode começar a se lamentar…

Setlist:

1. (Int) Liberty

2. I Will Return

3. Course of Life

4. Rio

5. TTOTL

6. (Int) Fairy Tale

7. Stop

8. Lisbon

9. On your Own

10. Living For The Ninght

11. (Int) Carry On

12. Time

13. Angels Cry

14. Stand Away

15. Never Understand

16. Wuthering Heights

17. Streets of Tomorrow

18. Evil Warning

19. Lasting Child (+ Renaissance)

 

Texto de Alessandro Iglesias

Fotos de Jefferson Moura

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