Dado e Bonfá: “As V Estações” celebra magnificamente o repertório da Legião Urbana no Jeunesse Arena

Se as novas gerações não tiveram a oportunidade de vivenciar em tempo real a “beatlemania messiânica” que foi o fenômeno Legião Urbana durante os anos 80 e parte dos 90, quando a instituição encerrou atividades após a partida precoce do vocalista e poeta Renato Russo (1996), tiveram esse “gostinho” durante a noite MÁGICA deste sábado (01/07), num Jeneusse Arena absolutamente abarrotado e transpirando emotividade em doses cavalares!

Crédito Fotografia: @thaclicando – Thaís Monteiro (@glowpopbrasil)

A turnê “As V Estações” abarga o repertório dos clássicos álbuns (aliás, qual não seria?) “As Quatro Estações” e “V”, mas sem ordem cronológica e também nada de abrir mão de arrasa quarteirões como “Tempo Perdido”, “Será”, “Faroeste Caboclo” “Eu Sei” e “Quase Sem Querer”, por exemplo… É um caldeirão de ingredientes dos mais sedutores para os fãs viscerais da lenda, e uma oportunidade de ouro para aqueles mais jovens poderem sentir toda a atmosfera que essas canções emanam frente a multidões. E pensar que esse projeto é bastante recente…

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Apesar de lançarem ótimos trabalhos solo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá nunca conseguiram repercussão similar a trajetória arrebatadora da Legião (expectativa que nunca foi almejada!). Apesar das batalhas judiciais pelo nome da banda com o herdeiro de Renato Russo, resolveram depois de MUITO tempo ao pressentir o forte apelo popular para tal, levar as os “hinos legionários” para os palcos novamente.

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Apenas em 2015 se juntaram para um revival em comemoração aos 30 anos de lançamento dos álbuns da Legião Urbana, e o projeto previa algo em torno de 20 shows apenas. Só que o prognóstico foi bem sucedido ao extremo e esta banda acabou criando raízes sólidas! Assim, a premissa vencedora e histórica se deu durante sete anos, com duas turnês e centenas de apresentações na bagagem. O timaço é complementado por Mauro Berman (diretor musical e baixista), Lucas Vasconcellos (guitarra e violão), Pedro Augusto (teclados) e André Frateschi (vocal).

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Este processo “celebrativo” chega em seu ápice no Rio de Janeiro (cidade que os integrantes fundadores escolheram para se estabelecer) com a apresentação da tour “As V Estações”, no suntuoso e imponente Jeneusse Arena. Bem, sabemos que o ensejo tem “cara de jogo ganho” logo na abertura com os hinos “Há Tempos” e “Meninos e Meninas”. Aquele brado ensurdecedor recitado em cada palavra pela multidão, muitas das vezes encobre a voz do ótimo André Frateschi, e sabemos que será esta a audiência fenomenal durante todo o espetáculo. Famílias com “país e filhos”, muitos jovens em grupos (que demonstravam surpresa com a “fervorosidade” frente aquele repertório) e os fanáticos da “ReLegião” (a ampla MAIORIA,) compõe este acontecimento memorável. 

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Como de praxe, os “cabeças” assumem os vocais em algumas canções: “Índios”, “Sete Cidades”, “Quando o sol bater na janela do teu quarto” (Dado) e “Monte Castelo”, “Por Enquanto” (Bonfá). Aliás, essa última impressiona pelo suntuoso arranjo de sintetizadores e a encore da faixa com uma agressiva versão de “Heroes”, do mestre camaleão David Bowie, influência de TODOS daquela geração de Brasília.

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Mas além da empolgação incandescente e do público ensandecido, algo chamava a atenção logo de cara,  que era o fato de ter outro integrante na bateria (no caso o filho de Bonfá, João Pedro). Ele explicou ao público em tom de desabafo e emocionado, que o show esteve para não acontecer por causa de um quadro de Herpes Zoster, o que causou semi paralisia e muitas dores dilacerantes . Então seu rebento “braço direito” (literalmente, já que só tocou com o esquerdo), fez a dobradinha no instrumento. Muitos (como eu!) acharam que era uma “cozinha experimental”, tentativa surpreendente de inovação. Mas após o relato, todos ficaram bastante comovidos com o esforço do legionário em tocar, e gritaram seu nome em uníssono!

Crédito Fotografia: @thaclicando – Thaís Monteiro (@glowpopbrasil)

A banda, a exemplo dos shows nos primórdios oitentistas, tocam bem próximos entre si (“intimismo garagero”) em um palco sem recursos cênicos. Mas em compensação, abusam de belas projeções e uma iluminação afiada: “Índios”, “Vento no Litoral”, “Por Enquanto” e “Pais e Filhos”, são exemplos claros de quando esta dobradinha funcionou magistralmente bem.

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A política sempre foi algo forte no discurso do grupo, vale ressaltar que o homenageado álbum “V” surgiu em tom de denúncia contra o Plano Collor na maioria de suas canções. Não tivemos a eternamente atemporal “Que País é Este”, mas em compensação a execução raivosa de “Soldados” fez uma parte do público soltar o grito de “INELEGÍVEL”, em alusão a recente pena eleitoral imposta ao ex-presidente de triste memória. Dado foi sucinto, mas mordaz: “vocês são a voz da Legião, nos representam”! 

Crédito Fotografia: @thaclicando – Thaís Monteiro (@glowpopbrasil)

A ode progressiva “Metal Contra As Nuvens”, uma das maiores (inclusive na duração) canções da lenda brasiliense, encerram os trabalhos de aproximadamente duas horas e meia em espectro catártico! Definitivamente, a Legião Urbana é um daqueles fenômenos raros que ficarão eternamente no consciente popular, a comoção que reverbera para as gerações subsequentes externa essa prerrogativa diretamente. Noite mágica, que como Dado reforçou, “que reverbere em um Rio de Janeiro sempre lindo, só que cada vez mais difícil de se morar”. “Urbana legio omnia vincit”. ANTOLÓGICO!

Texto por Alessandro Iglesias

Crédito Fotografia e Apoio Logístico: @glowpopbrasil, através de @thaclicando (Thaís Monteiro) e @renatabelich
(Renata Belich)

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