DIDO “renasce” nos palcos em apresentação no Rio de Janeiro

A britânica DIDO quando estourou no início do século, foi situada como uma GRANDE revelação para o público mundial. Mas pouca gente sabia que tinha feito parte do Faithless, grupo de eletrônico fundado e produzido pelo seu irmão Rollo Armstrong, que chegou a ter uma boa notoriedade na Europa nos anos noventa, tendo lançado cinco álbuns de estúdio. Anteriormente, havia se aprofundado no estudo musical acadêmico (além do canto, tem desenvoltura com piano e violino). Essa experiência foi deveras necessária para o seu amadurecimento musical. Quando estreou solo com o multiplatinado “No Angel” (disco mais vendido no planeta em 2001), já era uma artista mais do que pronta, apesar do repertório autoral ter um frescor que soava como novidade, pela ousadia do resultado final.

As referências da década passada estavam lá: pegada de pop-rock alternativo (grande incidência acústica), climas etéreos com ecos da new age e obviamente a eletrônica também teria que entrar nesse “pacote”. E claro, não podemos esquecer de seu belíssimo timbre vocal, preciso, sem excessos, que resulta em leitura reflexiva que é uma acertada extensão de sua persona artística. O entrosamento resultante da parceria com o irmão na produção desde então, se mostrou uma cartada mais do que perfeita!

O segundo álbum (“Life for Rent”) também foi um grande sucesso, capitaneado pelo hit “White Flag”, tornando DIDO uma grande cantora no cenário mundial para o novo milênio. Mas badalação definitivamente não é a sua praia, e a partir de então seus trabalhos se tornaram cada vez mais espaçados (apenas cinco de catálogo e uma coletânea, contando com o lançamento desse ano “Still on my mind”), fora suas cada vez mais raras aparições públicas. Sim, foram QUINZE anos sem fazer turnês! Mesmo assim, é uma das maiores vendedoras de disco desses tempos: QUARENTA milhões são os números da discretíssima inglesinha.

E finalmente, com MUITOSSS anos de atraso, shows no Brasil! Em uma sexta-feita chuvosa (08/11), o KM DE VANTAGENS HALL era um ponto de interrogação… Aquele espaço imponente ocupado por cadeiras, e surpreendentemente a também britânica Sonia Stein fazendo a abertura (ninguém parecia saber dessa participação), com pouquíssima gente meia hora antes da apresentação principal. Sobre Sonia, piano e voz, boa desenvoltura, charme no palco, e voz embasada na música negra, deixou a impressão que ainda iremos ouvir muito falar dela…

Quando achávamos que teríamos um show vazio, os cariocas mantiveram a tradição de deixar TUDO para a última hora e só ocuparam praticamente TODO o espaço faltando cinco minutos para o evento! E mais uma surpresa: o início com a nova e hipnotizante “Hurricanes”, com todos sentadinhos, suscitava uma apresentação intimista e comportada, certo? NEGATIVO!  Logo na terceira “Life for rent” todos se levantaram e o clima passou a ser de show de pista. Os seguranças tentaram durante todo o concerto que se “cumprisse as ordens” (tiveram GRANDE trabalho!), mantendo o povo calminho e apreciando uma cantora com um repertório muito mais reflexivo do que dançante…

Pois a coisa FELIZMENTE saiu “dos trilhos”. Além dos óbvios hits latentes, como “Thank You” (canção que foi estourar mesmo com o remix de EMINEN em “Stan” dois anos depois), e “Here with me” (abertura do seriado “Roswell”, com grande regravação de Sarah Brightman), a dançante com incisivo desembaraço pop “Sand in my shoes”, colocou o povo para se livrar das cadeiras e partir para a euforia! Fora o clima de pegada eletrônica a la Faithless nas músicas do novo álbum (um dos grandes lançamentos desse ano), também contribuiu e muito para uma agitação nas alturas, que parece que não foi NADA programada pelo local…

Somado a isso a emoção em poder estar vendo pela primeira vez uma apresentação de DIDO. E o clima de doce nostalgia era acentuado pela EXCEPCIONAL forma física da artista em TODOS os sentidos! Com 47 anos, ela não mudou nada, impressionante. E ainda a voz irretocável com louvor sim, obrigado! A sensação de voltar no tempo do estouro de seus dois primeiros discos no início da década passada, era irresistível…

A troca foi consumada, e a todo momento enfatizava que amou o Brasil, iria voltar breve, e a sua felicidade e de toda a excelente banda com o astral instaurado, era notória e comovente. Balões vermelhos em formato de coração foram distribuídas para serem iluminados com celular, no belo folk etéreo de “Quiet Times” pelo fã-clube. Aliás, eles me proporcionaram uma informação valiosa… Sabemos que o advento das trilhas de novela no Brasil provoca muitos hits locais, fenômeno esse diversas vezes desconhecido pelo próprio artista. “My lover’s gone” foi um dos temas de “O Clone”, e um “sucessaço” por essas paragens. A canção (LINDA por sinal, evocando sonoramente um misticismo étnico, apesar da letra desbragadamente romântica) não estava no repertório da turnê, e após os pedidos dos fãs ardorosos brasileiros, foi incluída no show. São as maravilhas do mundo globalizado!

Vale destacar a simplicidade do palco, com panos distanciados servindo de projeções, criando um bonito visual, como em “No freedom”. A encore com a clássica “White Flag” só veio coroar a bela apresentação de DIDO, e vamos combinar, com auxílio luxuoso do público, que por pouco não invadiu o palco e a “levou para a casa”! Fica um recado para a casa de shows para nunca subestimar a multiplicidade de um artista, por mais que ele tendencie para uma logística óbvia. Em relação a música, e a troca com seus fãs, tudo pode acontecer…

Texto: Alessandro Iglesias

Fotos: Fã-clube Oficial Brasil

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