Diogo Nogueira lança o single “Princípio, Meio e Fim”

Existem canções que impressionam instantaneamente, que acendem, inspiram, arrepiam. “Princípio, Meio e Fim” é uma delas. Um raro momento em que, encantados pelo tal poder da criação que outro poeta descreveu, Serginho Meriti e Claudemir deram forma a um clássico. Desde então, o povo começou a cantar.

Tocado como tantos outros ouvintes, Diogo Nogueira a abraça agora com todas as forças — e também as sutilezas — que incorporou e desenvolveu ao longo de 15 anos de carreira como intérprete. Esta nova gravação leva “Princípio, Meio e Fim” às alturas a que estava destinada, com arranjo de Lua Lafaiette que agrega 14 músicos da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e o apoio vocal do grupo Inovasamba ao time afinadíssimo que acompanha habitualmente o cantor: Rafael dos Anjos (violão), Henrique Garcia (cavaquinho), João Marcos (baixo), WilsinhoManinho e Chiclete (percussão).

Inscrita na longa tradição de sambas em feitio de oração, a música também se alinha com outras joias do repertório de Diogo, como “Clareou” (também de Serginho Meriti, em parceria com Rodrigo Leite) de 2016, e “Fé Em Deus” (de Flavinho Silva, ex-Fundo de Quintal), sempre apontadas pelos fãs como inspiradoras, motivacionais, curativas… uma atualização do clássico efeito que os velhos bambas chamavam de lenitivo.

“Eu sempre trouxe isso nos meus trabalhos. A gente precisa de uma canção assim para representar a esperança e a fé em um momento tão complicado de pandemia, de crise política no mundo todo”, explica Diogo. “E essa música me emocionava sempre que eu escutava. Vinha o sentimento, eu tinha que gravar, parecia ter sido feita pra mim.”

No estúdio, ele inicialmente registrou com uma voz mais de “raiva, luta”, extravasando um espírito de inconformismo. Porém logo se deixou dominar por uma força doce, tomado pelo que define como “um mar de amor”, que tornou a mensagem mais poderosa. “Faça como uma dança”, foi o toque certeiro do produtor Lua Lafaiette.

A letra começa citando o Salmo 91:7 (“Mil cairão ao teu lado”), com uma novidade: o próprio Diogo toca o violão na bela introdução. “Eu não sou violonista; sei alguns acordes, algumas canções. Mas o Lua, sempre espirituoso, me viu brincando com o violão numa reunião por vídeo e me intimou, me desafiou”, conta.

O paulistano Lua Lafaiette buscou verdade e visceralidade em tudo, foi esse o norte no processo criativo de arranjo. “Esse trabalho tem a síntese da pesquisa… do samba de força na alma, que vai além do ‘bate na palma da mão’ e do ‘tira o pé do chão’. Eu tento usar a força simbólica do começo ao fim. Estudei cada vogal dele, cada consoante do Diogo. As consoantes como percussão, as vogais como cordas, como clarinete… Ele se colocou como papel em branco, mas tudo ali é do Diogo, da história dele. Como ele entrou na música, as tatuagens, o jeito dele andar, o filho dele. A tinta é toda dele”, detalha o produtor, que não nega também a inspiração nos trabalhos antológicos do cearense Geraldo Vespar — especificamente em discos de João Nogueira dos anos 70.

Lua tem 35 anos de singularíssima experiência: começou tocando tamborim na Nenê de Vila Matilde e depois de intensa passagem pela cena do pagode dos anos 90, expandindo-se por cavaco, violão e piano, foi estudar orquestração na Áustria e hoje trabalha com música clássica e trilhas para cinema e videogames, a serviço de uma agência sediada em Praga. 

Foi do produtor que partiu também outra ideia essencial para a força da gravação: a participação de Davi, filho de Diogo, de 14 anos, em cirúrgica intervenção ao piano. “O fá de Davi, duas notas fá em duas oitavas. O Lua o viu no estúdio, brincando com violão, cantarolando, e o convocou a participar também”, conta Diogo. “Foi uma luz que esse moleque trouxe pra mim… Ele me inspirou”, define Lua.

Outra força no estúdio foi a sabedoria do engenheiro de som Luiz Carlos T. Reis, o Bigode, um veterano presente na carreira de Beth Carvalho e em muitos dos melhores discos de samba de todos os tempos (no site Discogs constam 61 páginas de obras com seu nome nos créditos — e a relação lá é incompleta). Ele lembrou o peso de três gerações de Nogueiras no estúdio: “Há muitos anos, eu tinha aqui neste sofá o João. Esta é a primeira vez com o filho do Diogo”.

Quem escuta o resultado grandioso não imagina o ambiente de descontração que gestou a faixa. Diogo descreve: “O Lua ouviu a gravação inicial e falou que iria precisar de cordas. E ficou dançando na sala. Sozinho. Ele fechava os olhos e dançava, fazia movimentos com a mão… E eu: ‘Caramba!’. Aí ele falou: ‘Deixa comigo, o arranjo todo tá pronto já, tá na minha cabeça’.

Quando escutou o resultado final, o cantor foi às lágrimas. “Ah, irmão. Foi emoção, choro… Queria passar a mensagem com essa carga toda de emoção mesmo. Pra atingir o Brasil e o mundo.”

Pedro Só

Jornalista

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