Em um show Teatral, Madonna mostra porque é a rainha do Showbiz
Definitivamente não é a toa que Madonna chegou as 54 anos fazendo música nova, e produzindo grandes espetáculos. A rainha do pop sabe o poder do seu taco e mesmo não sendo mais a mesma estrela que explodiu nos anos 80, seu fôlego e pique não perde em nada para as novas revelações da música. Madonna na verdade, nunca deixou de ser atual e e consegue até hoje dominar a indústria do entretenimento com a garra de uma animal selvagem.
Dá pra contar nos dedos os artistas que nasceram há duas décadas atrás e simplesmente não se perderam no tempo. Quase nenhum. Alguns por problemas pessoais, mas outros pela falta de tática em lidar com a mudança dos tempos e saber se reinventar, principalmente porque a indústria da música é fria e o mundo comercial cruel. Muitos dos artistas que se consagraram anos atrás, vivem do seu passado e parece que enquanto estiverem vivos é disso que se alimentarão, e quando saem em turnê são sempre aguardados pelos sucessos nostálgicos. Madonna apesar de ser mestre em baladas maravilhosas e românticas que com certeza já deve ter embalado muitos pais, consegue ser também parte da pista de dança de uma geração mais recente, e por um longo tempo permanecerá. É claro que nem em tudo em que a rainha do pop encabeça é fácil, na verdade, depois de tantas reinvenções nada é mais fácil como antes. Muitas dos projetos não dão o retorno esperado, mas ela não mede esforços e se mantém em uma luta interna e externa, parte em sua evolução emocional trabalhada pela Cabala, numa mistura de evolução física porque não dizer, (mesmo tendo um corpo escultural) o cansaço e a idade o qual chega pra todos. Resumindo: Madonna trabalha e muito, para conquistar o tem. E o fato de dar certo por tantos anos, é devido a isso, e devido também a sua naturalidade em representar no palco uma performance digna de cinema.
Enquanto todos são jovens, e cada vez mais a tecnologia avança, surgiu nesse céu chamado música pop, centenas de estrelas. Com uma boa dose de recursos, direcionadas ao público certo, temos grandes astros e shows milionários, mas apenas o tempo vai ditar a eles as regras duras de conseguir se expressar como ser humano e vender como máquina de sucessos. Em algum momento muito sacrificado de sua vida, Madonna aprendeu a conciliar os dois mundos, e vem domando ele de tal forma, que turnês excepcionais como a Confessions Tour dão a luz a mais outras, e outras, e mesmo que seus álbuns mais recentes não tenham sido abraçados pela crítica, a qualidade de sua música não caiu a ponto de que Madonna fosse obrigada a mudar sua personalidade e se transformar em qualquer outra coisa pop. A arte da reinvenção precisa caminhar com a autenticidade.
E se isso tudo soma pontos junto aos fãs, até mesmo o atraso de mais de duas horas podia ser superado. Quem chegou cedo no Parque dos Atletas ontem no Rio sabia que isso podia acontecer. Muitos estavam despreocupados, e assistiram o ensaio da cantora com animação, e receberam em troca uma boa dose de carisma com direito ao português mal falado da rainha do pop, que se despediu do ensaio chamando o público de “gostosinhos”.
Com a ajuda da dupla de Djs Felguk, a galera foi agitada no melhor do ritmo eletrônico com direito a remix de canções do Pink Floyd e Red Hot Chilli Peppers. Aproximadamente onze da noite o show começa e o primeiro ato da apresentação dá as caras ao som de um canto gregoriano, no fundo uma igreja que badala seu sino e balança um enorme defumador. Extremamente teatral, a voz de Madonna e seus primeiros trechos de Girl Gone Wild são “entoados”. Ritmo, sensualidade e religiosidade unidas de forma irônica e como sempre ousada, como sempre também característico de Madonna.
A turnê MDNA é mais soturna se comparada com a Hard Candy. Dividido em 4 atos, a rainha do pop encena um momento de transgressão onde uma mulher aparentemente perde o controle de seus atos e acaba assassinando seu amante, seguido pela profecia e sua busca pela libertação, em momentos andrógenos e muito sensuais, chegando por fim na celebração. Boas pitadas de misteriosidade, regadas a uma sensualidade mais presente, figurinos em preto, couro, Madonna guia suas performances com criatividade, apesar do show ser de longe uma das suas maiores produções. Momentos como “Give Me All Your Luvin”, foram bem divertidos, regados a bastante coreografias. Nesse mesmo ato, dançarinos que tocavam bateria ficaram suspensos no ar, e situações assim são capazes de tirar o fôlego e também, a atenção de outras situações mal sucedidas como em “I Don’t Give A”, uma música promissora com o featuring de Nicki Minaj. Tocadas na guitarra que nada animou um público o qual desejava ver o tempo todo a cantora dançando e suando, Madonna se perdeu no ritmo de seu próprio rap e a voz falhou diversas vezes, o que estragou um pouco do ato que anteriormente tinha sido performado com maestria através de “Gang Bang”, uma música longa, e com muita coreografia parada, algo que com certeza rendeu um ensaio pesado, e pode unir influências do cinema com a música pop: original e excepcional.
E se originalidade é uma das marcas da Madonna, seu egocentrismo também. Na música “Express yourself” a rainha do pop causou alvoroço na platéia, botou as 60 mil pessoas do Parque dos Atletas pra dançar em peso ao som de seu hino feminista. Quando aí que entrou o sample de “Born This Way” de Lady Gaga, marcando dignamente seu território e mandando avisar que a Mãe Monstra jamais será como ela, o que inúmeros fãs adoraram, principalmente aqueles que formentam a disputa entre as divas.
Um fato que não pode ser esquecido em meio a tanto estímulo visual nesse show, é que Madonna está cantando mais. E isso significa na verdade que ela está se entregando e arriscando mais. A base pré gravada está lá, mas em momento algum, a cantora de Like a Virgin, se permitiu deixar o playback rolar sozinho, e ainda que tenha perdido o fôlego em algumas canções, sua voz é marcante e ainda muito bem preparada. Um bom exemplo disso, foi o momento de “Open your heart”, um das músicas que mais exige a voz de Madonna pela transição rápida do grave ao fino, logo depois complementada pela versão basca de “Masterpiece”.
O ato andrógeno (masculino/feminino) foi outro ponto alto do show. Um interlude de “Justify My Love” já aquecia a platéia, quando “Vogue” começou e garantiu com toda a certeza, uma das melhores performances da noite. Há uma magia nessa música que é capaz de animar a todos sempre da mesma forma. O que quebrou o ritmo, foi a segunda música do ato: “Candy Shop”, que não ganha em nada o público desde a época de Hard Candy, e na minha opinião permanece um erro. Um tipo de música que não devia entrar no set das turnês. Mas não tem problema se a canção “Human Nature” que tem a dose certa de atitude e envolvimento for a canção seguinte. Em uma briga com espelhos que se movimentam no palco, Madonna luta com seus alter egos e termina por tirar a roupa, peça por peça, suavemente até que pára na ousada lingerie, cheia de notas de dólar presa no corselete, completamente transparente e “cravada” em meio das pernas. Uau! os fãs do Golden Triangle e da área Premium certamente foram a loucura. Madonna sobe devagarinho em cima do piano, reclamando do calor e dizendo como os brasileiros são “calientes” e para a surpresa de todos, “Like A Virgin” é cantada numa versão suave e deliciosamente jazzística, definindo porque “Like a Virgin” atravessa os tempos como uma das músicas mais irônicas e sensuais que o cenário Pop já teve. A curiosidade sobre os dólares presos na roupa de Madonna seria então revelada. Jogando-se ao chão, dramaticamente, Madonna encena a mulher que foi desprezada jogando as notas no público que simplesmente jogaram em real, causando espanto de outros fãs, e “Love Spent” se encaixa como uma luva nesse instante. Cantada na versão acústica, Madonna incita e debocha do seu amor perdido em função do dinheiro, se intitulando num português mal falado “Piriguete” arrancando risos da platéia: “Deveriam ter mais piriguetes, piriguetes inspiram outras piriguetes”.
O show chegava ao seu fim, e o ato final “Celebração” foi como um respiro em meio aos atos mais intensos. Colorido e agitado também, músicas como “I’m Addicted” e “I’m a sinner” não embalaram tanto as pessoas, como na seguida “Like a prayer”. Fato que o coral ao fundo é capaz de arrancar arrepios, e muitas das pessoas presentes insistiam em desejar uma Madonna que só cantasse os clássicos, coisas que jamais aconteceu, e nem vai acontecer. A platéia dançou como nunca, e inundou com palmas no ritmo da música. Todos os setores do show pareciam agora unidos e animados em completo. “Celebration” finalizou de uma maneira que, mais perfeita seria impossível. Vinte e duas músicas tinham rolado durante performances hipnotizantes, mas ninguém estava mesmo ciente de que já era o fim. Dizendo “Obrigada” Madonna deixou o palco como seus dançarinos, e os fãs alucinados.
Setlist
Ato 1 – Transgressão
1. Canto Gregoriano
2. Girl Gone Wild
(+ sample de Material Girl)
3.Revolver
4. Gang Bang
5. Papa Don’t Preach
6. Hung Up
7. I Don’t Give A
Ato 2 – Profecia
Interlude em vídeo – heartbeat
8. Express yourself
(+ sample de Born This Way e She’s Not me)
9. Give me all your luvin’
Interlude em vídeo – Turning up the hits
10. Turn up the radio
11. Open Your heart
12. Sagarra Jo
13. Masterpiece
Ato 3 – Masculino/Feminino
Interlude em vídeo – Justify y love
14. Vogue
15. Candy Shop
16. human nature
17. Like a virgin
18. Love Spent
Ato 4 – Celebração
19. I’m Addicted
20. I’m a sinner
21. Like a Prayer
22. Celebration
Por Juliana L. Farias
Foto: Divulgação