Heavy Metal dá as caras no continente africano

Metal Africa

 

O documentário “Death Metal Angola”, surgiu por acaso mediante uma reação de susto, seguida de incredulidade. O cineasta americano Jeremy Chido estava em 2009 na cidade de Huambo (segunda maior de Angola) para um filme sobre a reconstrução de uma ferrovia no local após o país viver tantos anos difíceis de guerra civil, quando precisou de um habitante da região (Wilker Flores) para o ajudar nessa empreitada. Quando o mesmo lhe disse que era músico, prontamente perguntou que tipo de som ele fazia. “Death Metal”, foi a resposta. Sim, existia som extremo no continente africano! O que fazia todo o sentido do mundo, porque ao contrário do satanismo e da extrema violência fantasiosa cantada pelos expoentes escandinavos do gênero, as letras nesse caso passam praticamente a ter registro pessoal. Guerras, chacinas, fome, latrocínio, pessoas devoradas por cães nas ruas, epidemia da AIDS, tudo isso faz parte do universo real dos habitantes dessas regiões.

Além de Angola, outros países como Botsuana, Madagascar, Moçambique, Zâmbia e Quênia, tem registros de cena local, com bandas que literalmente já estão fazendo muito barulho (“Before Crush”, “Wrust”, “Ovni”, “Last Year’s Tragedy”, “Wrecking Tanganyba”, “Sasamaso”, são algumas que já despontaram com destaque) e sendo descobertas gradualmente ao redor do mundo via internet (o sinal e o acesso ainda são muito escassos na África).

Jeremy resolveu de todas as formas contar essa história e “Death Metal Angola” conta a trajetória de Wilker e sua namorada Sonia, em não medirem esforços para promoverem o primeiro festival de som pesado do país. Mas esse não foi um fenômeno documental isolado. O fotógrafo da África do Sul Frank Marshal, fez vários registros dessas tribos com indumentárias um tanto peculiares, como apreciadores de Metal em um clima quase desértico, vestindo casaco de couro e chapéu de caubói (estilo Motorhead na capa do clássico disco “Ace os Spades”) em Botsuana. Daí surgiu a exposição “Renegades”, que já foi apresentada na África do Sul e nos Estados Unidos. “Terra Pesada”, documentário sobre o movimento em Moçambique e “Heavy Metal Africa – Vida, paixão e heavy metal no continente esquecido”, livro do antropólogo americano Edward Banchs, são os próximos registros a serem lançados de uma cena underground que muitos ainda ficam perplexos ao saberem de sua existência, já que o imaginário sonoro vindo desse continente é o daquela sonoridade étnica que ficou devidamente rotulada como “word music”  .

Em países que além das condições políticas e econômicas estarem entre as piores do mundo, ainda serem possuidores de toda uma carga cultural extremamente conservadora, nada mais justo do que o Heavy Metal, som radical e repleto de rebeldia por natureza, se fazer presente a esse tipo de realidade local. Utilizando até um trocadilho infame com uma de suas vertentes sonoras mais radicais, na África sim, teremos ainda bastante “Black Metal” produzido, no sentido mais literal da coisa.

Por Alessandro Iglesias

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