Ivo Meirelles e Funk’n Lata lançam com Frejat ‘No Morro não tem Play’ e discutem musicalmente a falta de paz nas favelas do Rio

‘Nos morros e favelas do Rio de Janeiro, ter paz é uma utopia’. É com este pensamento que Ivo Meirelles, músico nascido e criado na Mangueira, e que sabe muito bem o que é criar os filhos num ambiente onde bala perdida é uma constante, se inspira para compor sua nova canção, “No Morro não tem Play”, que entrará para o álbum #21, preparado em parceria com o grupo Funk’n Lata. Para dar o tom roqueiro, estilo que o sambista também já deu suas passeadas – inclusive com shows no Rock in Rio -, Ivo convidou Frejat para uma participação especial. A música, com um tom político bastante aguçado, teve seu lançamento na última sexta-feira, 23, nas plataformas digitais. 

LINK DA MÚSICA: https://ONErpm.lnk.to/IvoMeirelles

“Ser criança num morro carioca é andar no fio da navalha. A sorte vai te transformar num adulto sem transtornos. Não existe uma forma correta de proteção, principalmente se for do sexo feminino. Quando se chega à idade adulta, todos, sem exceção, lembram das mazelas que passaram para sobreviver”, aponta Ivo Meirelles, que já lançou, em outras oportunidades músicas que discutem o tema, como “Help ao Morro” e “O Coro Tá Comendo”, entre outras. 

Para ele, o que falta é o verdadeiro interesse da sociedade no assunto: “A paz nos morros do Rio sempre teve prazo de validade. Eu sempre compus e cantei sobre esse tema, mas a verdade é que esse discurso não gera interesse. Ninguém nunca fez nada de objetivo para levar paz aos moradores desta área”.

A vida no morro não é novela!’

Disposto a mais uma vez propor a discussão sobre a falta de paz nos morros cariocas, Ivo relembra sua criação na Mangueira, diz que de sua memória, lá da década de 1970, não conseguirá apagar a cena de policiais da Aeronáutica, com cães, entrando em sua casa e levando seu pai preso, e relembra os amigos que já perdeu.

“A bala perdida é a grande vilã, mas não é só isso. Já perdi amigos que caíram do telhado, que foram atropelados, vítima de desabamentos, e outros que ‘se perderam’ e foram presos. A bala perdida acontece quando há confronto policial, mas a vida no morro não é novela”, ressalta o artista.

Não adianta colocar o exército lá’

E já que a grande discussão do momento sobre a segurança do Rio de Janeiro é a intervenção militar, Ivo, que sabe bem a raiz do problema e tem experiência de vida nos morros, aponta: “Não adianta colocar o exército lá. O exército tem que combater nas fronteiras, a Marinha nos portos e a Aeronáutica nos aeroportos. No morro o Estado precisa se fazer presente. Tem que ter saneamento básico, coleta de lixo, postos de saúde, escolas com profissionais capacitados, serviços bancários, vigilância policial respeitosa, emprego, e outros serviços que atendem a população das classes A e B.”

Do samba ao rock, ao lado de Frejat:

A parceria com Frejat para cantar ‘No Morro não tem Play’ não é por acaso, Ivo o escolheu a dedo. O roqueiro já participou do primeiro CD do Funk’n Lata e traz a força do ritmo para a canção. 

Para o parceiro, Ivo Meirelles é só elogios: “Já fizemos muitas parcerias nos palcos. Ele é um cara sensacional e de um caráter ímpar. Quando resolvi gravar essa música, eu queria uma voz que soasse o rock and roll, e só vinha ele na minha cabeça”.

O álbum #21:

Com 14 faixas, #21 conta com diversas participações, entre elas Gilberto Gil, Samuel Rosa, Seu Jorge, Elba Ramalho, Molejo, entre outros. As músicas estão sendo lançadas separadamente, mês a mês, nas plataformas digitais pela ONErpm. A última, antes de “No Morro não tem Play”, foi “Frevo Mulher”, que conta com a participação de Elba Ramalho. Além desta, outras duas já foram lançadas, no final de 2017, “Funk’n Lata vai tocar” e “Mangueira”- esta última, dueto com Seu Jorge.

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