LIVING COLOR mostra porque é uma das maiores bandas do planeta

O Living Color conseguiu um grande feito em grande parte dos anos 90: fazer seu nome BONITO, mesmo com toda a ascensão do som de Seattle, da música eletrônica, e do cenário pop alternativo que assolou a época. Apesar da qualidade absurda dos instrumentistas e suas composições, ir bem na MTV (o que aconteceu!) era um dos requisitos do sucesso. Lembrando que não tínhamos internet, E a quantidade de vezes que um clipe era vinculado ou pedido para a emissora, é similar ao número de visualizações nos dias de hoje.

Claro que havia todo um apelo da banda ser formada só por negros, e como o nome condena, utilizar um visual extravagante e colorido. Mas sem a fusão matadora de Metal, Hard, Africanidade, Rap, Jazz, Funk, de uma forma absurdamente particular e vanguardista, nada disso teria acontecido. Eram “quase” uma unanimidade naqueles tempos (muitos GRAMMY na bagagem!), e isso os manteve firmes e fazendo bonito durante um bom tempo. Por razões não muito claras, deram uma parada em 1994, onde todos os seus integrantes desenvolveram trabalhos solos, para voltar com força total em 2000. A repercussão não é a mesma desses tempos, mas a avaliação de seus discos posteriores foi ótima e o primordial: os shows continuam matadores!

Lembrando que foi em uma apresentação, que ninguém nada mais do que Mick Jagger, ficou tão impressionado que indicou o bardo para um contrato com a gravadora Epic. E ainda saíram na estrada fazendo a abertura para os Rolling Stones (que divulgavam o disco “Steel Wheels”). O show do Hollywood Rock em 1993 (onde foram headliners), até hoje é lembrado como um dos grandes momentos da história do festival (tanto no Rio como em São Paulo). E falando em apresentação, na atual turnê, o petardo de estreia “Vivid” (em comemoração aos seus 30 anos de lançamento), é tocado NA ÍNTEGRA!

E que presente temos em nossa cidade, por termos a voz de Corey Glover, com seus vocais cheios de feeling, Vernon Reid, um MONSTRO de repertório diversificadamente ABSURDO nas 6 cordas, o grande batera William Calhoun, e o único integrante que não é da formação original (mas na banda desde 1991), o experimentalíssimo baixista Doug Wimbish, nesta quinta-feira (1306), no Circo Voador!

A abertura dos trabalhos foi com a banda Seu Roque! O trio fez um ótimo show, com seu rock setentista de riffs consistentes, e letras em português bem inspiradas, lembrando os melhores momentos do Golpe de Estado, e porque não, do Barão Vermelho do pesado álbum “Carnaval”. A homenagem ao saudoso André Mattos, e o apelo pelo apoio a cena “brazuca” independente, fez o razoável público que já habitava a “lona voadora”, a dar uma merecida e efusiva acolhida ao grupo.

E depois de um longooooo intervalo, onde a platéia que a esse momento já lotava o espaço, dava claros sinais de impaciência, eis que O ACONTECIMENTO musical do ano vem a tona! Para começar, os nostálgicos se esbaldaram em ver o velho visual colorido novamente, em detrimento ao “jazzy” elegante adotado recentemente. Mas qualquer possibilidade de “experiência túnel do tempo” se dissipa com o início atípico do show: entraram conversando, sem alarde, brincando com o barulho ensurdecedor que o povo bradava… E eis que Vernon começa os trabalho “quebrando tudo” com “Preachin’ Blues”, do mestre Robert Johnson. Um novo pacto com  alguma força oculta se daria então?

Parece que sim! A segunda música “Come On”, do último álbum “Shade”, de 2017, pode muito bem soar entre os grandes clássicos do bardo, ainda mais com o duelo voz e guitarra INCRÍVEL de Corey e Vernon, e o instrumental virtuosamente absurdo e coeso dando as caras. Outro cover, dessa vez do lendário rapper, Notorius BIG, lembra a transição com facilidade que o Living Color faz por estilos dos mais diversos em sua sonoridade, mas sem perder o peso e o punch. Que versão!!!

Então Corey anuncia o início de “Vivid”, na íntegra, sem tirar nem por! Várias canções do disco de estreia sequer haviam sido interpretadas ao vivo, então a expectativa do abarrotado Circo era GRANDE. E por mais que obviamente as músicas mais incensadas (os hits “Cult Of Personality”,
“What’s Your Favorite Color? (Theme Song)” e “Glamor Boys”), já eram a certeza absoluta da casa vir abaixo, TODAS as canções funcionaram maravilhosamente ao vivo. Mérito total e absoluto da banda, que trouxe o material de forma absolutamente revigorado, juntamente com a própria performance dos seus integrantes.

É muito bonito e gratificante, ver que a banda de trinta anos atrás, se mostra ainda MELHOR atualmente! Todos por incrível que pareça, destilam sua qualidade de forma AVASSALADORA: Corey abusa das absurdas variações vocais de forma sublime, Vernon destrói sua guitarra de uma forma inexplicável (está entre os dez maiores do instrumento SEM DÚVIDAS), Will destila sua quebradeira repleta de groove (independente do solo vigoroso de bateria) e Doug é incrível em suas vicissitudes experimentais, no combo de seu contrabaixo com a maravilhosa inserção de efeitos (a cara de mal sem sorrisos é um capítulo a parte também!).

Após a saideira de “Vivid”, com a maravilhosa funkeada “Which Way to America?”, ainda tivemos três petardos para fechar os trabalhos: o espetacular e hit máximo “Love Rears Its Ugly Head”, e as porradaças “Elvis is Dead” e “Type” (todas de “Time’s Up”, quem sabe brevemente na íntegra também?). Temos sempre os dois lados da moeda: outras músicas que possivelmente completariam o set-list, não entraram pela execução de todo o “Vivid”, mas aí lhe pergunto, ALGUÉM RECLAMOU?

IMPOSSÍVEL!!! Show espetacularmente irretocável. E nos perguntamos, o Living Color não merecia estar em um status maior como lenda, e fechar uma edição do Rock in Rio (ou qualquer outro grande festival) por exemplo? Tocar em arenas e não no reduzido (sem desmerecer esse templo da música) Circo Voador? Teria todas as condições… O que atrapalha um êxito comercial merecidamente maior, o “esmerilhamento” técnico? Racismo?

Ficamos nos perguntando, porque só para dar um exemplo, outra banda que começou abrindo a mesma perna da turnê dos Rolling Stones no mesmo período, o Guns’n’Roses. Quantas vezes já não vimos ser caricaturas de si mesmo, mesmo após o dito retorno de parte da formação original? Vide o HORROROSO show do último Rock in Rio. E não perde o status de lenda. Porque será?

Não é uma comparação, mas uma constatação, o Living Color é uma das maiores bandas do planeta, principalmente no palco. O som pode não lhe ser tão atrativo por mera questão de gosto pessoal, mas o show é deveras magistral (isso costuma beirar a unanimidade)! O Living Color MERECE estar no lugar que lhe é de direito! O melhor show do ano (com sobras) e um dos melhores da história do Circo Voador, COM CERTEZA!

Texto Alessandro Iglesias

Fotos da divulgação

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