‘O Mundo Sombrio de Sabrina’ usa o terror soft e a representatividade como trunfos

Há alguns anos o gênero Terror entrou em declínio como o queridinho dos jovens e deu espaço aos Super-Heróis. Mas agora com uma aparente retomada, liderada principalmente pelo filme “A Freira”, a Netflix apostou em juntá-lo justamente com o outro universo que mexe com a juventude: quadrinhos. É com uma abordagem atual, inclusiva e usando um “terror soft” que “O Mundo Sombrio de Sabrina” consegue despertar o interesse de diversos públicos. Para isso, um elenco muito bom dá vida a todos os elementos pensados.

[ATENÇÃO: A PARTIR DAQUI PODE CONTER ALGUM TIPO DE SPOILER]

A nova produção foi inspirada nos quadrinhos da Archie Comics. Muitos dos personagens já existiam na ficção, mas outros foram enxertados e permeiam toda a trama com muito suspense, ódio e amor, talento e uns sustinhos que não chegam a chocar. Carrega dramas adolescentes e até um humor às vezes debochado.

É a mistura de uma linha clássica do gênero de terror, mas com todos os elementos atuais de se fazer filmes atraentes. A tentativa de mirar no público jovem é explícita através da mensagem de inclusão que vamos descobrindo no desenrolar das histórias. E estes novos nomes são cruciais para a representatividade.

Além do adúltero Padre Blackwood (Richard Coyle), a amiga não-binária Susie (Lachlan Watson), o diretor conivente Hawthorne e as Irmãs Estranhas Prudence (Tati Gabrielle), Agatha (Adeline Rudolph) e Dorcas (Abigail F. Cowen) – uma negra, uma oriental e uma branca, respectivamente – são os elementos que se juntam ao primo homossexual da Sabrina, Ambrose (Chance Perdomo), e a amiga negra Walker (Jaz Sinclair). Um elenco altamente complexo e que dialoga com o espectador justamente por sua identidade com ele.

Sabrina, vivida pela talentosa atriz Kiernan Shipka

Por falar em diálogo, Kiernan Shipk, que dá vida à Sabrina, brilha intensamente. A bruxinha, que ao contrário da Bruxinha Ângela escrita por Maria Clara Machado não é 100% boa, carrega uma outra complexidade que a torna realista. Com uma atuação impecável de Shipk, o roteiro às vezes muito arrastado se torna atraente justamente por causa dela.

Kiernan conseguiu humanizar um personagem que o tempo todo flerta com a demonização proposta por sua vida paralela de bruxa. A dramaticidade é a ideal, sem exageros, deixando que tudo flua com naturalidade e até na hora das dores ela não deixou cair.

O seu núcleo, que traz as suas duas tias e seu primo, tem uma aura sombria e fotografia soturna. Outro grande grande trunfo está nos figurinos, com os 15 personagens principais e 69 figurantes contendo elementos que fazem encaixes perfeito para todo esse cenário sombrio. Tudo para ambientar ao máximo o clima de terror. Mas ele não é horripilante ou tão assustador. Talvez seja aí a chave para a boa recepção. Com a classificação em 16 anos, é acessível a jovens com idade inferior e até mesmo os seus pais e avós.

Ainda que uma sociedade cristã como a americana ou brasileira torça o nariz para tantos elementos satânicos, há uma enorme ironia nisso tudo. É justamente demonstrar a hipocrisia ao se questionar as maldades ou pecados mundanos de terceiros e agir tão próximo do que se critica. E para isso usam até recortes populares, como bruxas queimadas ou enforcadas, algo que era praticado nos Estados Unidos em séculos passados.

A segunda temporada está garantida. Segundo Roberto Aguirre-Sacasa, responsável pela trama na Netflix, esta será diferente e com abordagens que não foram colocadas na mesa nesta primeira. Diferença. Essa foi a importante arma da série. Ser diferente nos personagens, na representatividade e principalmente no gênero terror em si. Se o que os envolvidos queriam era tal aspecto, conseguiram.

Classificação: Bom

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