O retorno de Gabriel, O Pensador vinte anos depois

O Rapper carioca Gabriel, O Pensador volta ao cenário musical com o álbum “Sem Crise”.

Gabriel era um universitário no auge dos 18 anos, inteligente e ousado o suficiente para provocar os primeiros burburinhos com o rap “Tô Feliz (Matei o presidente)” dedicado à Fernando Collor. O que ele não esperava era que esse burburinho causado por suas palavras ácidas e incrívelmente certeiras, o afastaria da faculdade onde cursava comunicação social para cuidar do seu primeiro projeto: o disco de estréia “Gabriel, O Pensador” como assim ficou conhecido.

Não se pode contestar a importância que Gabriel tem até hoje, mesmo durante tanto tempo de afastamento, por na época ter voltado os olhos do país para a possibilidade de transformar o Hip-hop em algo comercial. Músicas como “Lôrabúrra”, “Retrato de um Playboy” e a consagradíssima “Cachimbo da Paz”, são as provas claras da tamanha a influência causada. Suas letras cheias de humor, rimas não tão complexas mas verdadeiramente consistentes e críticas sagazes, banhadas em paródias tão conhecidas pela nossa consciência, mas nunca cantadas em alto som, e de popularizadas antes. Gabriel estava divertindo muita gente e ao mesmo tempo abrindo os olhos ao passar mensagens polêmicas, a fórmula estava dando certo.

Até que o rapper se voltou ao mundo literário por conta do livro infantil “Um Garoto chamado Rorbeto”, o qual lhe presenteou com o prêmio Jabuti em 2006, sem contar o projeto social “Pensador Futebol”, que encaminha jovens de comunidades carentes para divisões de base dos times. O tempo foi passando, e tão atribulado nesse novo mundo, os shows e disco que seriam gravados em 2009 foram guardados na “gaveta”. Mas o destino trouxe mais uma vez uma boa dose de polêmica à vida do artista. O escritor Fabrício Carpinejar havia contestado um cachê de 170 mil que Gabriel receberia para integrar a Feira de Livros de Bento Gonçalves, com distribuição de até mil livros e mais um show. Gabriel se revoltou e devolveu o dinheiro, usando o incidente para formentar uma música, intitulada: “Linhas Tortas”, em que põe em pratos limpos, toda sua vida, lembrando até a época em que sua tia-avó deu uma máquina de escrever, e o pai não aceitava sua escolha musical.

“A polêmica foi uma coisa que me fez mal, compus essa música como desabafo. Eu me distraí com outras coisas, que me consumiam muito tempo e energia. Essa reverência à minha profissão de artista, de compositor e poeta, isso me fez bem. Ao mesmo tempo em que eu falava aquilo, eu escutava.” explicou o cantor que lançou a música com sucesso pela internet.

Outras músicas nasciam devido a acontecimentos pessoais. Fruto de uma viagem à Indonésia, e suas reflexões sobre como andava levando seu tempo, “No Ritmo, no tempo” surgiu e teve participação do Cone Crew Diretoria, um grupo de rappers da nova geração.

Em meio a esse processo criativo, Gabriel despertou depois do hiato de 20 anos, e tomou de volta o lugar representativo o qual sempre foi seu no rap brasileiro, e caiu de cabeça na finalização do disco com a ajuda do produtor Fernando Deeplick. Com isso, o projeto “Rimadores Anônimos” também foi levado na bagagem.

Enquanto recebemos o novo álbum de Gabriel, O pensador, seu filho Tom, vai descobrindo gradualmente cada pedacinho do primeiro disco do pai e se questionando por exemplo sobre o que é a ditadura, presente na canção “Abalando”.
Por Juliana L. Farias

 

 

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