‘Pop in Rio’: As mudanças que poucos conseguiram entender

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Sempre que há o debate da célebre frase de que “o Rock in Rio não tem rock”, os defensores dos outros estilos musicais lembram que ele é um festival de música, não apenas das guitarras distorcidas. Porém, há muita coisa além disso. E isso ficou nítido na edição que terminou neste domingo (22), a quinta no Brasil.

Quando foi idealizado, meados de 1984 e colocado em prática em janeiro do ano seguinte, o estilo vigente e com grande apelo era o Rock. Mais precisamente a convergência do auge do hard rock. new wave e o finzinho do punk. Na ideia original, além de um festival, Roberto Medina queria trazer as grandes bandas do momento para o Rio de Janeiro e celebrar a festa da música mundial com a nacional. Era o que de mais popular tínhamos no cenário. E por essa razão, o rock se sobressaiu e deu nome ao evento com bandas no nível da Queen, AC/DC, Iron Maiden, Scorpions e Ozzy Osbourne.

Porém, a “eterna metamorfose” do planeta trouxe a globalização, ascensão do popular/dançante (que em 1985 começava a despontar, principalmente devido ao efeito “Michael Jackson”), mudança radical no mercado fonográfico e um novo e polêmico estilo chamado “Pop” se consolidou como a locomotiva das gravadoras. E daí começou a eterna discussão do que é e o que não é pop.

Se em 1991 o rock ainda influenciava a “indústria cultural” e tivemos o som pesado das bandas que ainda ditavam moda, mesmo que com menos força, em 2001 a coisa começou a mudar de vez. Foi ali o primeiro dia dedicado exclusivamente às chamadas “estrelas popstars”, com sucessos sazonais, temporais e que estão em constante divulgação musical nas rádios e tv. Britney Spears, Five e N’Sync foram confirmados e geraram grandes revoltas entre os fãs do rock e até da imprensa, que não entendia a transformação que estava acontecendo. Se Oasis, Guns N’ Roses, Iron Maiden, Red Hot Chili Peppers e cia ainda eram as atrações principais, o som dos mesmos já começava a ser suplantado pela “nova onda”: Mais popular e com mais mídia.

Dos dez anos que separam a terceira edição até a quarta, mais mudanças e o rock saiu de vez dos aparelhos de som, se tornou “cult” e quase um estilo renegado. E foi ali, em 2011, que se viu uma outra consolidação no Rock in Rio. Dos sete dias, três foram totalmente voltados ao estilo pop, se igualando ao do rock. Até mesmo a nova geração do rock não sabia ao certo se eram as guitarras pesadas ou as batidas do beatbox que faziam parte da sua sonoridade, como Maroon 5 e Coldplay. Rapper, cantoras-dançarinas que trocam de roupa a cada duas músicas, pop-rock com batida de bateria semelhante a bases… Se fez sucesso ao público que foi criado durante o período da mudança fonográfica, continuou gerando a ira dos fãs de outros ritmos.

E veio 2013. Atrações de peso no cenário mundial foram chamadas. Mas tentando satisfazer o gosto de todos, as mesmas bandas que figuravam lá na década de 80, também. Já era tarde demais… Com apenas dois dias exclusivamente voltados ao rock e quatro “headliners” do estilo, diversos artistas misturados não foram suficientes. Atualmente o Rock in Rio é uma enorme mistura dos sons, quando podemos encontrar o blues-rock comercial do John Mayer, famoso pelas suas ex-namoradas, com o rock carismático do Bruce Springsteen e seus três discos no Hall da Fama. Ou hits de sucesso temporais do Nickelback, com o pop-rock tradicional do Bon Jovi, que lançou nesse meio a figura do “popular rockstar”. Até mesmo um DJ comandou a festa que ainda teve vencedor de reality show. Não há mais argumentos. O festival agora é da música atual.

Agora, o antes “formador de estilo” rock é apenas uma referência para guiar diferentes estilos. Para ele, o Palco Sunset, local da mistura, da formação de novos modelos musicais. The Offspring, Marky Ramone,  Helloweenn e até o lendário Sebastian Bach foram exemplos da “nova ordem musical”. Precisa-se do pop para o apelo popular.

Quem dita as tendências do que será ou não tocado no Rock in Rio é o público, a indústria fonográfica e as transformações musicais, as mesmas que sacudiram o meio entre 1985 e 2013. As diferenças são tantas, que os antes vaiados brasileiros, como os Novos Baianos, agora são aclamados pelos “headbagers” aos gritos de “Zépultura” e “Avohai”. A sonoridade mudou, as figuras que ditam moda, não. Se antes as estrelas eram rockeiros rebeldes, mas que eram rockstars, agora são os “bons mocinhos” com hits de alguns meses de sucesso e chamados de “popstars”.

A nova geração de fãs deixou o recado neste Rock in Rio para Roberto Medina: A música do mundo pode estar pop, mas os grandes nomes que são atemporais e ainda arrastam as multidões, não apenas de um estilo musical. Bruce Springsteen, Bon Jovi e Iron Maiden provaram que o rock ainda é sim pop, levando desde jovens de 1985 até a jovens de 2013. Não faltou música, não faltou rock, sobrou foi pop.

Por Bruno Guedes

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