Robin Wright salva a temporada final de ‘House of Cards’ do fracasso

É mais fácil chegar ao topo que se manter nele. Esse velho ditado popular resume bem a última temporada de “House of Card”, que estreou nesta sexta-feira, 2, na Netflix. Com roteiro muito mais arrastado que as anteriores, algo já questionado pelos fãs, a sombra da morte e total ausência do grande vilão Francis Underwood (Kevin Spacey) deixa uma enorme lacuna na série. Para piorar, o cenário da política real tornou a história um tanto quanto, digamos, menos interessante.

ATENÇÃO, PODE CONTER ALGUNS SPOILERS A SEGUIR

Como já é de praxe, Robin Wright brilha intensamente ao dar vida a Claire Underwood. Se a temporada não pode ser considerada um total fracasso é por causa da sua atuação. Não à toa ganhou espaço e passou a ser uma protagonista que, ao longo das seis sequência, foi alçada ao patamar de principal. Sem Kevin Spacey, que foi acusado de assédio sexual e levou ao cancelamento do seu contrato, Robin ganhou ainda mais espaço para o solo quase perfeito. Mas a ausência do intérprete de Francis acabou gerando uma enorme falta de identidade.

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O roteiro soa forçado e vazio. Com agora o seu ex-marido morto, Claire tenta comandar os Estados Unidos como presidente. As intrigas e segredos permanecem, mas tudo parece um enorme cenário sem peças fundamentais. O desaparecimento do personagem de Spacey obriga o espectador a se acostumar com outros novos. Ainda que com ótimas atuações, outra marca de “House of Cards”, não conseguem o mesmo destaque e profundidade de antigas temporadas.

Porém é recorrente a tentativa de buscar no falecido a figura que falta, as narrativas secas e principalmente a frustrada criatividade em brigar pelo que restou dele. As citações são permanentes sobre Francis, todavia ele não aparece em momento algum. Nem mesmo na abertura. Um enorme vácuo para ser descrito apenas com diálogos.

Vale a pena citar a tentativa dos roteiristas em incluir temas que estão no centro do debate mundial, como o #MeToo, movimento de denúncias dos abusos sexuais, e a igualdade de gênero. Neste certame, a produção acerta, ainda que o assédio sofrido por Claire na juventude seja rápido e pouco questionado.

Mas nada derruba em grande escala a série – e já há dois anos – que o cenário político atual. Com figuras polêmicas como Donald Trump, Bolsonaro, Putin ou a Operação Lava Jato e os crimes da Arábia Saudita, o que acontece na série parece algo menos atraente e divertido. Até certo ponto, amador e desinteressante. Um exemplo são as mortes de personagens que faziam fundo para as ações do Francis, bem menos crueis e de cunho sensacionalista quanto a do jornalista saudita morto na Turquia, há um mês.

“House of Cards” foi uma das primeiras grandes produções da Netflix que fizeram sucesso e também alavancaram a popularidade do canal por streaming. Entretanto o cansaço de seis temporadas acabou dando um fim melancólico e, de alguma maneira, pouco criativa. Só que os Underwood deixam um legado. Daqui pra frente, sempre que lembramos de atrocidades em nome da política, o casal estará lá. Ainda que com um fim bem indigno a quem tanto aprontou, literalmente.

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