Titãs lança DVD do “Cabeça Dinossauro” no Circo com o mais puro rock n’ roll

Banda resgata a melhor época do rock nacional revivendo o emblemático disco de 1986 “Cabeça Dinossauro” em um Circo Voador completamente lotado.

Havia uma época não muito distante, apesar de parecer para a antiga geração algo quase abandonado, uma “linhagem” de bandas de rock não só internacionais, mas principalmente as nacionais, que eram extremamente autênticas às suas composições e eram frutos de pura atitude, atitude essa que diferente de hoje, meio vaga e volúvel, tinha verdadeiro compromisso com a revolta contra as milhares de coisas erradas vividas na década de 80, desde questões políticas às clássicas religião e família.

Talvez os tempos sejam menos duros do que foram décadas atrás, de alguma forma, pouquíssimas bandas não se renderam a o desejo de serem belas, digo esteticamente  e voltaram completamente suas letras para romances e coisas simplistas do dia a dia, em ritmos menos acelerados, e apresentações conceituais demais. Na época do lançamento de “Cabeça Dinossauro”, álbum marcante pela sonoridade agressiva e as letras muito críticas, a juventude precisou e usou tais músicas como uma desabafo. O show dos Titãs nesse sábado (2) no Circo Voador traz essa essência bruta, repleta de criatividade e nos proporciona não só uma viagem nostálgica quando as bandas de rock eram realmente feitas de protesto, de energia para transformar, amar e também destruir uma série de conceitos equivocados, como também nos fez lembrar que raras são as bandas brasileiras antigas que sobem ao palco e preservam na íntegra o comportamento solto e voraz em cada música tocada. A verdade é que as bandas antigas, terminam por envelhecer cada vez mais até apagarem. Só que nem mesmo cercado de cadeiras, o público do Circo Voador, metade já acima dos 28 anos, comportaram-se de forma tediosa. A maioria da galera que curte o álbum mais emblemático da nossa história, pôs suas camisas pretas pra suar, e suas cabeças a sacudir: ninguém ficou parado, a banda, o som, as pessoas, eram todos jovens de novo, até porque definitivamente essa apresentação fugia daquela fase mais recente dos Titãs que deram origem a músicas como “Epitáfio“.

O Cabeça Dinossauro produzido na época por Liminha, baixista dos “Os Mutantes”, deixava claro uma unidade sonora pesada e talvez confusa em algumas músicas, lembrando que na época Arnaldo Antunes e Tony Bellotto haviam sido presos por porte de heroína, a ideia da capa que nascia de um esboço de Leonardo Da Vinci chamado “A Expressão de Um Homem Urrando”, seria o disco menos sofisticado, porém muito mais incisivo, melhor dizendo: consciente. A tal geração soterrada pela ditadura ressurgia e muita coisa “podre” precisava ser gritada.

As canções famosas desse período que exemplificam bem o contexto Polícia, Igreja, Bichos Escrotos, Estado de Violência e a sensacional Homem Primata levaram a platéia ao delírio, pois essas foram justamente as pessoas que acima das outras, vivenciaram essa fome por se libertar, porque não dizer urrar como animais os hits que consagraram o grupo.

A primeira parte do show é agitado e funciona como uma espécia de peso sendo jogado sem dó nem piedade no público. “AA UU” e “Cabeça Dinossauro” por exemplo trazem à tona o pulso, a agressividade, e foram entoadas como hinos pelos fãs. Havia um homem das cavernas acordando em cada um. Um homem das cavernas que cuspia mais uma vez sobre a moral e os bons costumes. Entretanto. ainda nessa primeira fase cheia de atitude, canções mais ensolaradas e “suaves” como “Família” e “Homem Primata”, servem como transição para a segunda fase do show e deixaram a galera respirar um pouco.

A segunda fase do show é aberta por “A verdadeira Mary Poppins” que mesmo não sendo do disco Cabeça Dinossauro e sim do Titanomaquia, na época sem o integrante e co-fundador Arnaldo Antunes preserva o teor crítico mas já são canções que mostram as transformações sofridas pela banda na década de 90. A “Nem sempre se pode dizer Adeus” conferem uma pitada punk rock e só adiciona mais sabor e empolgação às dobradinha do cover “Aluga-se” de Raul Seixas . “Sonífera Ilha” já formante o clima perfeito pra despedida mas faltava mais um clássico de protesto: “Comida” uma canção New Wave que já foi cantada e regravada por tantos artistas diferentes desde então, anuncia os trechos “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comer, a gente quer prazer prá aliviar a dor ” e fecha o show da melhor maneira possível, com uma crítica atemporal, que também combina um bocado com o pensamento dessa galera que é também amante do Circo Voador.

Texto: Juliana L. Farias

Fotos: Jefferson Ribeiro

Setlist

1.Cabeça Dinossauro
2.AA UU
3. Igreja
Acorda Maria Bonita
(Sergio Britto vocal)
4.Polícia
5.Estado Violência
6.A Face do Destruidor
7.Porrada
8.Tô Cansado
9.Bichos Escrotos
10.Família
11.Homem Primata
12.Dívidas
13. O Quê

Segunda parte

14.A Verdadeira Mary Poppins
15.Amor por Dinheiro
16.Nem Sempre Se Pode Ser Deus
17.Aluga-se
(Raul Seixas cover)
18.Diversão
19.Vossa Excelência
20.Televisão
21.A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana
22.O Pulso
23.Lugar Nenhum
24.Flores

Bis

25.Marvin
26. Sonífera Ilha

Bis segunda parte

27.AA UU
28.Comida

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