“Tudo o que há Flora”, no Teatro Maria Clara Machado, na Gávea

Inspirado na linguagem do Teatro do Absurdo, o espetáculo Tudo o que há Flora fala sobre a solidão, a incomunicabilidade e o inconsciente feminino. A partir dessas três questões, que desafiam a lógica das relações humanas, a Nossa! Cia. de Atores, de Leila SavaryLucas Drummond e Thiago Marinho/Diego de Abreu, convidou a roteirista Luiza Prado e o diretor Daniel Herz para dar vida ao espetáculo Tudo o que há Flora, que realiza temporada de 11 de janeiro a 3 de fevereiro,  no Teatro Maria Clara Machado, na Gávea. A peça conta a história de Flora, uma dona de casa que desenvolve um transtorno psicológico a partir de um evento traumático causado por seu marido.

“A Nossa! Cia. de Atores, em sua primeira produção, permite ao Rio de Janeiro se orgulhar de seus jovens realizadores. O espetáculo é digno dos vários elogios que tem recebido da crítica e do sucesso de bilheteria”,

Rodrigo Monteiro – Crítico e Jurado do Prêmio APTR.

Com cenário de Fernando Mello da Costa, que lhe rendeu indicações aos prêmios Botequim Cultural e Cenym 2016, iluminação de Aurélio de Simoni, figurinos de Antônio Guedes e trilha original de Pablo Paleologo, a peça começou a ser idealizada há dois anos pelos três atores, amigos desde os tempos do Tablado, e que, há três, formam o grupo teatral Nossa! Cia. de Atores. “A ideia veio depois da leitura do conto Dora, uma mulher sem sorte, do meu avô, o jornalista Théo Drummond, em 2014. Foi ali que começamos a pensar nessas questões e na possibilidade de realizar um projeto a respeito”, revela Lucas.

Flora é uma dona de casa que cumpre um ritual diário enquanto espera o marido para o almoço. A trama, que poderia ser apenas uma história de amor entre um casal, revela aos poucos um lado sombrio. “Queríamos falar sobre como as pessoas conversam, mas não se escutam e muitas vezes vivem em uma aparente normalidade que nunca existiu, tentando esconder a solidão e suas imperfeições”, resume Leila. Para contar essa história, os três pensaram em seguir uma linha tragicômica, como explica Thiago: “Procuramos uma linguagem que fosse ao mesmo tempo engraçada e que provocasse reflexão. Foi assim que chegamos ao ‘teatro do absurdo’, com seus jogos de palavras e humor non sense”.

O trio convidou Luiza Prado, roteirista de duas temporadas do seriado Vai que cola, do canal Multishow, e ainda de curtas-metragens como O Rio de Paixão (2013), vencedor do concurso O Rio que eu vejo, para escrever o texto e dar forma às ideias da companhia: “Direcionar a experiência que tive ao escrever roteiros que exigiam uma sólida estrutura foi, de fato, um facilitador e um norte quando me deparei com as incontáveis possibilidades de explorar, no universo teatral, a incomunicabilidade humana e as dimensões de personagens extremamente solitários”, comenta a autora.

Premiado diretor teatral, professor, ator, autor e diretor artístico da Companhia Atores de Laura, Daniel Herz abraçou o projeto quando foi convidado a dirigi-lo: “Os temas abordados aqui me tocam muito, me movem enquanto artista. Somado a isto, trata-se de um texto novo, desenvolvido na linguagem do teatro do absurdo, que adoro, e idealizado por três jovens atores talentosos. Eu, aliás, me vi neles quando comecei, porque sempre digo aos jovens atores para que tenham projetos e não fiquem esperando até um diretor desejá-los. E eles fizeram exatamente isso, o mesmo que eu fiz quando tinha 18 anos”, conta.

Em um cenário despojado, com poucos elementos cênicos, entre eles três bancos e três buracos no chão, por onde os personagens entram e saem e que levam a um porão repleto de eletrodomésticos, Flora (Leila Savary) repete um ritual diário antes do almoço, que vai desde a meticulosa arrumação da mesa até o uso do mesmo laquê, à espera de Armando (Cirillo Luna, ator convidado), quando recebe duas visitas inesperadas (Lucas Drummond e Diego de Abreu). Discussões e revelações acontecem em meio à tensão gerada pela iminente chegada do marido, levando Flora a um inevitável e doloroso reencontro com o passado que ela luta, em vão, para esquecer.

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