“Subúrbia” acumula pontos fortes e pontos fracos

A Globo exibiu nesta quinta-feira (dia 1) a esperada estreia de Subúrbia, novo projeto do diretor Luiz Fernando Carvalho (Capitu, A Pedra do Reino). Divulgada com a promessa de ser um marco na dramaturgia brasileira, a série definitivamente tem seus pontos fortes, mas acaba incorrendo em diversos lugares-comuns de um gênero que, embora pouco explorado na TV, já encontra até certo desgaste no cinema brasileiro.

As sequências iniciais, retratando a infância da protagonista Conceição (Débora Nascimento) junto à família humilde em uma carvoaria em Minas Gerais, foram sem dúvida as melhores do episódio. Permeadas por um forte lirismo no texto e na fotografia, por trás da melancolia da dura realidade, chegavam a lembrar a inesquecível Hoje é Dia de Maria (2004/2005), também de Carvalho. A partir da chegada da protagonista ao Rio de Janeiro, essa aura de encanto perde-se vertiginosamente – talvez uma representação da perda da inocência infantil frente à existência cruel na metrópole carioca.

Há um breve pedaço entre as primeiras aventuras da pequena Conceição no Rio de Janeiro até sua chegada à idade adulta, quando passa a ser interpretada pela natural e simpática Érica Januza. São bem-feitas e impactantes as cenas em que a heroína é presa, confundida com uma gangue de jovens delinquentes, e passa maus bocados na antiga Febem até conseguir fugir agarrada ao chassi de um caminhão de leite. Aqui, no entanto, cabe uma ressalva à nudez das internas adolescentes na cena do banho coletivo. Entende-se a justificativa do contexto e a busca pela realidade sem meios-termos, mas ainda assim faltou bom senso à direção da série e à própria Globo considerando o contexto social em que temos vivido, com tantos casos de pedofilia acontecendo e vindo à tona.

A narrativa cai em qualidade a partir da ida de Conceição ao bairro de Madureira, onde vive sua amiga Vera (Danni Ornelas). A retratação feita da comunidade simples do local não chega a ser caricata – muito ao contrário –, mas em nada se sobressai às demais produções que abordaram o tema ao longo da última década, quer na telinha ou na sétima arte. Assim, torna-se inevitável o gosto de estereótipos e de “mais do mesmo”, embora não seja essa a intenção. Para completar, a cena final mostra Conceição voltando à casa de família onde trabalha e dando de cara com seu patrão, Cássio (Alex Teix), que tenta violentá-la. Dá para ser mais clichê?

O elenco, formado em sua maioria por atores estreantes, se mostrou bastante afinado. Além de Januza, Arthur Bispo (Lorival) e Rosa Marya Colin (Bia) estão entre os mais naturais. Também Serafina Terezinha, que brilhou na interpretação comovente da mãe de Conceição, na primeira fase da história. Pena que sua participação tenha durado um suspiro.

Subúrbia ficou devendo um pouco mais no quesito originalidade, bem diferente do que se podia esperar pela maciça divulgação. Como ainda há muito por mostrar, talvez a série possa surpreender de verdade nos próximos episódios. É aguardar.

 

Por Felipe Brandão.

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