Nile Rodgers e Panic At The Disco se destacam, mas Red Hot decepciona em Rock in Rio morno com mistura de gêneros
Por Bruno Guedes
O quarto dia do Rock in Rio foi abaixo do esperado. Apesar de grandes nomes e muitos ritmos, a mistura de gêneros deixou o Parque Olímpico, zona oeste da cidade, um pouco engessado nesta quinta-feira, 3. Os destaques ficaram por conta do Panic At The Disco, que atraiu muitos fãs apesar da pouca participação de quem não conhecia o grupo, além do carisma e muitos sucessos de Nile Rodgers. Red Hot Chili Peppers decepcionou com show morno e sem muitos hits.
Já o Capital Inicial repetiu a boa apresentação de outras edições. No Sunset, o rap nacional foi destaque e os protestos políticos deram o tom durante todo o evento. Confira como foram os shows nos palcos principais do festival:
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PALCO SUNSET
O quarto dia do Rock in Rio começou às 15h32 com Francisco, El Hombre e Monsieur Periné. Com um ritmo misturando MPB e o som colombiano. Com muita energia e crítica ao Governo Bolsonaro, o encontro agitou bastante o público que já lotava o Sunset. A comunicação também foi instantânea, chegando a abrir rodinhas no meio dos fãs. Incendiários e anti-fascistas. Assim eles se auto definiram.
Em seguida o Pará Pop assumiu o Rock in Rio. Começou com a Rainha do carimbó, Dona Onete, que em seguida introduziu ao show Gaby Amarantos, o pop-eletrônico-amazônico de Jaloo e o guitarrista, Lucas Estrela. Com bastante animação, som tipicamente paraense e muita resposta da plateia, a apresentação mostrou uma das mais fortes manifestações brasileiras e pouco acolhida no Sudeste ainda.
Mas se tem o Norte, tem aquela que é símbolo da região: Fafá de Belém. Aclamada, a cantora entrou vestida de índia e clamando pela natureza. No seu repertório teve espaço até para “Vermelho”, música que foi toada do Boi Garantido nos anos 90 e virou hino da Amazônia.
Um dos maiores nomes do rap nacional, Emicida se apresentou ao lado da dupla Ibeyi e levantou a multidão logo depois. Com homenagem as vítimas da violência Ágatha e Marielle Franco, o artista levou músicas do seu repertório como “Levanta e Anda” e “A Chapa é Quente”. O duo formado pelas gêmeas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz também brindou o público que lotava com River, maior sucesso das cantoras.
O Hip-Hop Hurricane, formado por Baco Exu do Blues, Rincon Sapiência, Rael, Agir e a Nova Orquestra encerrou a programação. Novamente com pegada de crítica política, o público reagiu bem. Entre as canções estavam “Meu Bloco” e “Ponta de Lança” do Rincon, “Flamigos” e “Te Amo Disgraça” do Baco Exu, “Envolvidão”, “Flor de Aruanda” e “Hip-Hop É Foda” do Raele “Parte-me o Pescoço”, do português Agir.
O show, apesar de animado, parece não ter funcionado tão bem ao vivo. Havia uma falta de sintonia entre os artistas, porém nada que tenha derrubado a apresentação. O público não se importou muito com a questão mais técnica e aproveitou até o fim.
PALCO MUNDO
Abrindo o principal palco, os veteranos do Capital Inicial novamente. Enfileirando todos os seus maiores sucessos, os roqueiros não precisaram de muito para logo dialogarem com o lotado Parque Olímpico. Abriram com “Tudo vai mudar”, do novo disco “Sonora”, de 2018. E depois só hits. Não faltaram “Independência”, “Música Urbana”, “Primeiros Erros” e até tributo ao Legião Urbana com “Tempo Perdido”.
Já próximo ao fim jogaram todas as mais aguardadas: “Fátima”, “Veraneio Vascaína”, “Natasha” e encerrando com “À Sua Maneira”. Um show que sempre funciona e o público gosta.
Mas depois era hora de aula no Palco Mundo. Voltando após um show apoteótico em 2017 no Sunset, o arquiteto de hits Nile Rodgers e a Chic transformaram o festival numa enorme pista de dança. Falar deste americano, é falar da história da música negra do seu país. Guitarrista e produtor musical, foi responsável por colocar na parada canções como “Let’s Dance”, “Get Lucky”, “Le Freak”, “Notorius” e tantas outras que foram entoadas na Cidade do Rock por 100 mil pessoas.
A banda em si é um fenômeno à parte. Muito sonora e de qualidade, fazem um som altamente técnico, dançante e com um groove diferenciado. Principalmente o baixista Jerry Barnes e suas linhas que carregam o swing do soul. Ponto alto da noite.
Com muito carisma e participação da plateia, o Chic levou “Dance, Dance, Dance” e “We Are Family” nas poderosas vozes de Kimberly Davis e Norma Jean Wright. As duas roubaram a cena e foram uma das atrações mais aplaudidas nessa edição. Terminando com “Good Times” e uma multidão no palco, o artista e sua banda mostraram porque foram “promovidos” ao principal local deste festival: um show memorável.
O Panic At The Disco subiu sob gritos eufóricos femininos e um coral gigantesco. Com bastante comunicação entre os jovens, os americanos entraram apostando na trajetória recente de pop-rock. Por isso trataram de largar todos os seus sucessos. Foi a estreia no Rock in Rio da banda que um dia foi símbolo dos emos e agora volta com pegada mais mercantil e moderna. Brendon Urie, o vocalista, parecia o grande artista em cena.
Urie, aliás, é o integrante original do grupo. Fazendo muitas caracterizações faciais e corporais, levou todas as aguardadas pelos fãs. Entre elas “This Is Gospel”, “Girls/Girls/Boys”, “The Ballad Of Mona Lisa” e seu primeiro grande single, “Don’t Threaten Me With A Good Time”. Houve espaço para um cover de “Bohemian Rhapsody”. Evocar o Queen no festival sempre é complicado, porque ele é uma espécie de padroeiro do Rock In Rio. Mas o Panic at the Disco fez a melhor versão de uma canção até o momento.
A baixista Nicole Row foi muito elogiada por sua performance e arrancou suspiros apaixonados pela Cidade do Rock. O encerramento foi com o grande hit do momento “High Hopes”. Um show que pode não ter tido o apelo de outros, mas agradou em cheio os fãs. Principalmente os dois anos 2000.
Se há um banda que nunca decepciona no palco é o Red Hot Chili Peppers. Ou quase nunca. Abrindo com seu mega hit “Can’t Stop”, começaram, como se diz na gíria musical, com o pé na porta. A dupla Flea e Chad Smith continua sendo genial e extra série. Ouví-los é um privilégio. A sustentação rítmica de ambos é mais que alma da banda, é quase o sinônimo dela.
Porém, em “The Zephyr Song”, o único deslize perceptível. Anthony Kiedis fugiu do tom em diversas vezes, algumas chegando a desafinar. Algo desagradável até para leigos em música. A partir daí o show foi ficando morno e só voltava ao velho estilo “jogar bonito” nos clássicos, como “Californication”, “By The Way” e “Dani California”.
A aposta em muitas canções recentes deixou o público bem morno. A reação era boa, porém longe da euforia inicial e até mesmo de outras apresentações, como em 2017. “Aeroplane” foi um dos pontos altos, com grande desempenho de todos.
O encerramento foi com a tradicional “Give It Away”. Mas desta vez os californianos ficaram devendo. Principalmente sem “Otherside” e “Scar Tissue”, famosas obras de sucesso. Foi bom. Mas quando falamos de uma das maiores bandas de todos os tempos, poderia ter sido melhor.
FOTOS: ROCK IN RIO